terça-feira, 25 de março de 2008

Hoje tem marmelada?
(por elano ribeiro. texto publicado na revista "Crônicas Cariocas" - www.cronicascariocas.com)

Acho impossível falar de carnaval e não lembrar automaticamente das figuras do Pierrô, do Arlequim e da Colombina. Assim também acontece com o circo. Não consigo falar do teatro mais popular do mundo sem me lembrar da figura do Palhaço – assim mesmo, com letra maiúscula, dada a importância que ele tem (ou tinha) para o espetáculo circense. É o Palhaço que anima (ou animava) a platéia, e encanta (ou encantava) as crianças e os adultos.

Sempre achei que os outros artistas que se apresentam (ou se apresentavam) sobre o picadeiro, eram meros coadjuvantes – não quero dizer com isso que seus números tenham (ou tivessem) uma importância menor para a grandeza do espetáculo. Apenas achava que, se faltasse a apresentação do malabarista ou do trapezista ou até mesmo a do mágico, pra mim não faria diferença alguma, uma vez que os Palhaços não deixassem de se apresentar. O brilho, a magia, o encantamento do circo está (ou estava) no Palhaço.
Por que eu estou falando sempre no presente (e também no passado)? É porque eu não sei se ainda existem circos por aí. Circos como os de antigamente, os clássicos, que tinham “Orlando Orfei” como um dos seus representantes mais conhecidos e respeitáveis. Circos em que o Palhaço questionava a platéia: “hoje tem marmelada?”. Vejo lonas montadas nas beiras das estradas, principalmente em torno das cidades do interior, mas tenho dúvidas se ali dentro ainda há algum espetáculo, alguma magia, algum Palhaço. Os “tempos modernos” com seus shoppings e suas tecnologias – e acreditem, o aparelho de televisão contribuiu em muito para desaparecimento dos circos – levaram a maioria ou quase a totalidade(?) dos tradicionais circos a bancarrota.

Talvez muitos não saibam, mas amanhã, dia 27/03, se comemora o Dia do Circo. Penso com certo pesar, que as gerações vindouras não conhecerão esse tipo de circo que um dia já existiu: o tradicional picadeiro circular coberto pela imensa lona colorida, carrinho de pipoca na entrada e o longo – e não raro surrado – tapete vermelho recepcionando o “respeitável público”.

Esse pequeno texto deve ser visto como uma despretensiosa tentativa de homenagear aqueles que são ou foram do circo, aqueles que milagrosamente ainda vivem ou aos que já viveram do circo, aqueles que de alguma maneira conheceram o circo e os seus sempre anônimos artistas, aqueles que viveram momentos e emoções inesquecíveis dentro de um circo, aqueles que sonham ou sonharam em ser Palhaços no picadeiro. Viva o circo! Conheça o circo!






quarta-feira, 19 de março de 2008


"O espantoso é que o espanto não espanta mais"
(Modesto Carone - escritor, jornalista e tradutor brasileiro)

quarta-feira, 12 de março de 2008

No quintal do meu vizinho
(por Elano Ribeiro. Crônica publicada na revista eletrônica "Crônicas Cariocas" - www.cronicascariocas.com)

Vem vindo aí mais uma Páscoa. Estou pensando seriamente em fazer um protesto que deixará os ambientalistas de plantão pra lá de furiosos comigo. Talvez eu use cartazes e faixas. Ou um megafone, que certamente causará mais impacto. Vou exigir que meu vizinho da frente corte boa parte das árvores que estão no seu quintal. Afinal, os arbustos (alguns frutíferos) irão me impedir de olhar a casa alheia, e por causa disso eu não poderei assistir a um belo “espetáculo infantil”, que só acontece uma vez por ano, naquele mesmo quintal (ou seria um palco a céu aberto?), exatamente no domingo de Páscoa. Posso afirmar que meu pedido será por uma causa nobre.

Explico: desde que me mudei, há cinco anos, para o meu atual endereço – o segundo andar de um sobrado, numa vila residencial –, venho observando o que acontece no quintal do vizinho, sempre nos domingos de Páscoa. É assim: logo bem cedo os adultos saem para o quintal e espalham dezenas de ovos de chocolate pelo lugar. Os ovos são escondidos atrás das árvores, na garagem, próximo à piscina, no meio dos canteiros de flores... Daí, quando as crianças acordam, elas mais do que depressa correm para fora de casa e começam uma divertida e empolgante “caça” aos ovos de Páscoa. É uma correria e um falatório que se estende por pelo menos uma meia hora. É fascinante assistir aquela cena. É maravilhoso ver a expressão de alegria nos rostos daqueles meninos e meninas. Sou capaz de afirmar que alguns deles (talvez a maioria) ainda ficam na expectativa de ver, entre o limoeiro e a laranjeira, um coelhinho saltitante, carregando nas mãos uma cesta com muitos outros ovos.

Digam-me senhores, se meu protesto não tem razão de existir? Numa época em que as crianças estão preferindo ficar (ou têm que ficar) limitadas às paredes de suas casas ou apartamentos gastando boa parte do tempo paradas atrás de um console de vídeo game ou buscando novos “amigos” virtuais nos sites de relacionamento, ver aqueles pequenos jovens correndo com os pés descalços num enorme quintal, quase não se agüentando de tanta alegria, e fazendo a felicidade de toda uma família, é sem dúvida alguma um espetáculo que deve ser por mim apreciado, sentido e aplaudido.

Talvez, tanto quanto o brilho e a magia que as crianças colocam na cena, outro fator que torna o espetáculo tão atraente para mim, é ver aquela enorme família reunida. De certa forma, eles me remetem aos meus tempos de garoto, e eu me vejo novamente correndo no quintal da casa dos meus pais, com toda aquela gente (parentes e amigos) chegando para passar o feriado pascoal.

Pensando bem, vou deixar o protesto de lado. No próximo domingo de Páscoa, em vez de me dirigir à janela, irei para o portão da casa do meu vizinho, tocarei a campanhia e pedirei permissão para acompanhar de perto a realização da minha peça teatral preferida. Vou me sentar bem no meio do jardim (o grande palco) e assistir a todas as cenas de um ângulo privilegiado, tendo os atores bem ao alcance de minhas mãos. Quem sabe eu mesmo não acabo me deparando com o bom e velho coelhinho da Páscoa.

sábado, 8 de março de 2008

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, o blog "´Diário de Bordo & A Poetica Crônica dos Contos" publica o texto Mulherão, da escritora Martha Medeiros.

O MULHERÃO
Peça para um homem descrever um mulherão. Ele imediatamente vai falar no tamanho dos seios, na medida da cintura, no volume dos lábios, nas pernas, bumbum e cor dos olhos. Ou vai dizer que mulherão tem que ser loira,1 metro e 80, siliconada, sorriso colgate. Mulherões, dentro deste conceito,não existem muitas. Agora pergunte para uma mulher o que ela considera um mulherão e você vai descobrir que tem uma em cada esquina.Mulherão é aquela que pega dois ônibus para ir para o trabalho emais dois para voltar, e quando chega em casa encontra um tanque lotado deroupa e uma família morta de fome. Mulherão é aquela que vai de madrugadapra fila garantir matrícula na escola e aquela aposentada que passa horas empé na fila do banco pra buscar uma pensão de 200 reais. Mulherão é aempresária que administra dezenas de funcionários de segunda a sexta, e uma família todos os dias da semana. Mulherão é quem volta do supermercadosegurando várias sacolas depois de ter pesquisado preços e feito malabarismocom o orçamento. Mulherão é aquela que se depila, que passa cremes, que semaquia, que faz dieta, que malha, que usa salto alto, meia-calça, ajeita ocabelo e se perfuma, mesmo sem nenhum convite para ser capa de revista.Mulherão é quem leva os filhos na escola, busca os filhos na escola, leva os filhos pra natação, busca os filhos na natação, leva os filhos pra cama, conta histórias, dá um beijo e apaga a luz. Mulherão é aquela mãe de adolescente que não dorme enquanto ele não chega, e que de manhã bem cedo já está de pé, esquentando o leite. Mulherão é quem leciona em troca de um salário mínimo, é quem faz serviços voluntários, é quem colhe uva, é quem opera pacientes, é quem lava roupa pra fora, é quem bota a mesa, cozinha o feijão e à tarde trabalha atrás de um balcão. Mulherão é quem cria filhos sozinha, quem dá expedientede 8 horas e enfrenta menopausa, TPM e menstruação. Mulherão é quem arruma os armários, coloca flores nos vasos, fecha a cortina para o sol não desbotar os móveis, mantém a geladeira cheia e os cinzeiros vazios. Mulherão é quem sabe onde cada coisa está, o que cada filho sente e qual o melhorremédio pra azia. Longa vida às mulheres lindas de morrer, mas mulherão é quem mata umleão por dia.

Martha Medeiros

Caros amigos e leitores, a crônica "Quem serão eles?", já publicada aqui no Blog, está presente em outro espaço muito bacana: o blog "Paralelos". Aí vai o link para que todos possam conhecer o "Paralelos" - http://oglobo.globo.com/blogs/paralelos/


quinta-feira, 6 de março de 2008

"A beleza tem um efeito embriagante. Quando a alma é tocada por ela, a cabeça não faz perguntas. Tudo é êxtase, encantamento." (Rubem Alves)