sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Pierrot apaixonado (1935)
Marcha Composição: Noel Rosa e Heitor dos Prazeres
Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou chorando
Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou chorando

A colombina entrou num botequim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Dizendo: pierrô cacete
Vai tomar sorvete com o arlequim

Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o pierrô aconteceu assim
Levando esse grande chute
Foi tomar vermute com amendoim

Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou chorando
Um pierrô apaixonado
Que vivia só cantando
Por causa de uma colombina
Acabou chorando, acabou chorando

A colombina entrou num botequim
Bebeu, bebeu, saiu assim, assim
Dizendo: pierrô cacete
Vai tomar sorvete com o arlequim

Um grande amor tem sempre um triste fim
Com o pierrô aconteceu assim
Levando esse grande chute
Foi tomar vermute com amendoim

Bom carnaval para todos!!!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Entre as espadas e os Beatles
(publicado na revista Cronicas Cariocas)

Sábado passado fui a um casamento de uma prima. Um casal “enigmático”, eu diria. Por força de uns acontecimentos, cheguei atrasado, acreditando que a cerimônia já estaria no fim e, portanto, eu poderia ir diretamente para a melhor “fatia do bolo”, ou seja, a festa.

Ao chegar ao local, logo percebi que a noiva estava bem mais atrasada do que eu. Na escadaria que dava acesso ao interior da igreja, mais de uma dúzia de casais, padrinhos e madrinhas dos noivos, se mostravam ansiosos, esperando o momento de adentrarem no recinto. Alguns homens da tal fila, a exemplo do noivo, que é militar de uma das nossas ilustres forças armadas, vestiam fardas, impecavelmente bem alinhadas, passadas e engomadas. E, ainda levavam na cintura suas “reluzentes” espadas.

Espadas estas que, ao final da cerimônia, foram apontadas para o alto e depois cruzadas pelos seus donos, para que os noivos, a essa altura marido e mulher, passassem por debaixo delas. Aliás, acho que isso acontece em todo casamento cujo cônjuge é militar.

Naquele exato momento, em que as espadas se tocavam, produzindo um som que eu não sei descrever, algo que pode não fazer muito sentido, passou pela minha cabeça. Vendo aqueles jovens rapazes colocados frente a frente, empunhando suas espadas, cheios de orgulhos, com os egos inflados, quase estourando, por saberem que estavam sendo admirados (e invejados, por alguns) por suas jovens e belas companheiras e, também, por boa parte dos presentes, pensei: como pode os representantes de instituições que marcaram de forma negativa um dos momentos mais sombrios da recente história brasileira (leia-se ditadura), causar tanto fascínio nas pessoas? O que estaria sentindo se, entre os convidados, estivessem filhos ou netos de cidadãos que foram torturados e assassinados pelos militares nos porões sangrentos do Brasil dos anos sessenta?

Mas foi um pensamento muito passageiro. Não que o assunto não fosse relevante, mas talvez aquele momento festivo e de confraternização não fosse o mais oportuno para tais questionamentos. Tanto assim, que chamei meu filho, João Pedro, para ver “o ritual das espadas”, mas ele achou melhor e mais interessante continuar brincando de pique com uma garotinha, pela pequena varanda da igreja.

Saímos dali e fomos para a festa, animada por um DJ que se rebelava nas pick-ups, apesar de usar um terno bem careta. E nesse clima de total descontração, chamou-me mais uma vez a atenção os jovens militares, pois mesmo ali, quando todos se divertiam, alguns deles não se desgrudavam de suas espadas. Comentei isso com minha esposa e, então, ela me disse que elas eram caríssimas. Banhadas a ouro, com marfim e outras coisas mais. Ela sabe disso porque o irmão dela, ou seja, meu cunhado, também é militar, e logicamente, passou por debaixo de algumas espadas quando se casou.

Até que, lá pelas tantas horas da madrugada, o DJ soltou uma seqüência dos Beatles. Aí, meus amigos, não teve jeito. As caríssimas espadas foram colocadas debaixo das mesas e os rapazes se soltaram na pista. Sem exageros, é claro.A essa altura, meu filho João Pedro, já dormia no colo da mãe. Talvez sonhando com a menininha que ele brincou lá na igreja. Mas, fiquei com a sensação de que ele, João Pedro, irá preferir a rebeldia dos garotos de Liverpool às espadas banhadas a ouro.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Carta a um desconhecido
(publicado também na revista Crônicas Cariocas)
Tenho pensado seriamente em ir a uma agência dos Correios, pegar um daqueles enormes livros de endereço, escolher a página de uma cidade bem distante, fechar os olhos e correr o dedo pela folha, parando repentinamente em algum nome. Feito isto, tomarei nota dos “dados postais” da pessoa e voltarei para casa, para então, começar a escrever uma carta a alguém desconhecido.

Escrever para alguém que você desconhece por completo, um verdadeiro estranho, tem lá suas vantagens. Por exemplo: essa pessoa pode servir como uma espécie de psicólogo, afinal pode-se revelar a ela as coisas mais absurdas, os desejos mais proibidos, as culpas, as frustrações, e por aí vai. Porém, meu objetivo será outro, o de tão somente me corresponder com alguém que jamais pensou em receber uma carta de um completo desconhecido.

Ainda mais em tempos de quase total extinção das correspondências tradicionais. Aposto que, se ao invés de uma carta, eu fosse até meu computador e digitasse aleatoriamente um e-mail qualquer, o destinatário não o abriria, com receio de ser um vírus que iria por todo o seu HD em risco. Então, excluindo-se a total possibilidade de ser uma carta bomba, certamente quem a receber, terá muita curiosidade de abri-la e ler seu conteúdo até a última linha.

Ficarei na expectativa de saber se minha correspondência irá cair nas mãos de alguém jovem ou idoso, alegre ou baixo-astral, pessimista ou otimista. Será essa pessoa um administrador ou um artista? Será alguém de espírito criativo que irá ler minha carta e se dar ao trabalho de responder? Ou será uma pessoa fechada para tudo que não estiver programado na sua rotina cotidiana, e por conta disso, pensará que sou um louco e desocupado que tem tempo de sobra para perder com bobagens e futilidades, como tentar fazer contato com pessoas estranhas?

Seja lá como for, por um determinado período, será como se eu tivesse voltado no tempo. Tempo em que se esperava o carteiro ansiosamente, todos os dias, na esperança de receber notícias de um amigo, amor ou parente distante.

Quem sabe, a pessoa que receber minha carta comentará com outras a respeito do acontecido e uma dessas dirá: “Ah, eu já ouvi falar da cidade desse cara e tenho conhecidos lá”. Ou então: “Que coincidência, tenho parentes que vivem no lugar de onde veio essa carta”. Afinal, não raramente, esse nosso mundo tão grande, parece ser pequeno demais.