segunda-feira, 2 de abril de 2007

FAMÍLIA
(Crônica escrita por Elano Ribeiro Baptista, publicada na revista eletrônica "Cronicas Cariocas" em 14/03/2007)

De acordo com artigo escrito por Michaela Von Schmaedel, publicado na revista Pais & Filhos, essa instituição – sagrada para alguns – vem passando por uma transformação. Segundo ela, é cada vez maior o número de famílias de modelo nuclear, aquela composta apenas por pais e filhos.

Grande ou pequena, barulhenta ou discreta, unida ou desunida. Seja como for, quase todo mundo tem uma família. Lendo o texto de Michaela, me dei conta de como a minha encolheu nas duas últimas décadas e, lembrei-me nostálgico dos meus tempos de garoto e de como eu esperava ansiosamente pela chegada de algumas ocasiões festivas: Natal, Ano Novo, Carnaval, Semana Santa, Dia das Mães, Dia dos Pais... Momentos em que a casa de minha avó ficava cheia de parentes, inclusive os que vinham de longe – esses ainda traziam vários amigos. Pais, avós, tios, primos, conhecidos, estranhos, todos juntos fazendo de cada hora do dia uma grande festa. Falatório geral na mesa pro almoço, gargalhadas, histórias.

Cresci tendo a oportunidade de observar e conviver com cada uma dessas pessoas. Muitas delas serviram de exemplo pra mim, e contribuíram em muito na construção da minha identidade. Como era bom imaginar que, quando eu me tornasse adulto, poderia ser igual – no caráter, na profissão, nas feições - a um daqueles tios ou primos. Até mesmo em coisas aparentemente sem importância, como na escolha do time do coração, esse convívio foi marcante. Que diga meu tio Lúcio! Assim que teve uma oportunidade me vestiu de rubro-negro e me apresentou ao Maracanã, tirando de meu pai a alegria de ter um filho vascaíno.

Com a morte da matriarca, esses encontros foram tornando-se menos freqüentes. Desentendimentos surgiram, uns se casaram e tomaram rumos diferentes, outros simplesmente passaram a achar que nada daquilo fazia mais sentido. A mesa já não necessitava mais de tantas cadeiras. Restaram as fotografias e imagens que cada um conseguiu guardar na memória. Ainda hoje, não raramente, vejo minha tia remexer em velhas caixas de sapato e de lá tirar diversas fotos que revelam momentos de intensa felicidade. Ainda nos reunimos, porém, nunca conseguimos juntar mais de uma dúzia de parentes. Que pena!

Infelizmente, a geração mais nova de minha família – jovens moças e rapazes – não teve a oportunidade de ouvir as histórias contadas pelos nossos avós, não pôde “viajar no tempo” ouvindo seus relatos sobre a chegada deles ao Brasil, o desembarque no porto de Santos, a fuga da fazenda onde eram mantidos como escravos, os caminhos percorridos até, finalmente, conseguirem achar um lugar onde começariam a construir suas vidas e nossa história.

Mais infelizmente ainda, é o caso dos órfãos que vivem em abrigos ou orfanatos, crianças e adolescentes esperando por uma adoção que talvez nunca aconteça. Muitos desses, jamais irão saber da importância e do significado de se ter uma família e, deixarão de ter referências fundamentais para o futuro de suas vidas.

Família. Aprendi que ela – quando bem estruturada – é a base mais sólida para qualquer cidadão, o porto seguro nos momentos de tormenta, o cais em que iremos ancorar quando tudo parecer perdido. Ela tem que ser mais do que somente pai, mãe e filhos. Mesmo que seja numa caixa de sapatos.

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