quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Os meus livros de cabeceira
(por Elano Ribeiro)
“Os meus livros de cabeceira”. Gosto dessa expressão. Ela denota uma importância ainda maior aos exemplares postos ali, na mesinha ao lado da cama. Dá-se a impressão de que, além de divertir e informar, eles servem como uma espécie de luminária para as noites de insônia, ou então, como psicólogos, sempre em silêncio, esperando pelas confissões de seus leitores. Muitos nunca serão lidos, ficando apenas como peças de decoração empoeiradas. Como um amigo meu, que tem diversos exemplares em cima de uma mesa ao lado da cama, numa espécie de cabeceira improvisada, todos à espera que algum par de mãos caridosas venha folhear suas folhas já amareladas pelo tempo.

Eu tenho uma lista de livros que poderiam ocupar tranquilamente o posto de “meus livros de cabeceira”, como, por exemplo, “O ipê amarelo” – não me recordo o autor, mas foi um dos melhores presentes que meu pai me deu. Outro exemplar seria “Feliz ano velho”, do escritor Marcelo Rubens Paiva. O maravilhoso romance desse grande escritor serviu para firmar minha paixão pela literatura.

Curiosamente, eu não tenho nenhum desses dois livros. O primeiro se perdeu ao longo do tempo, infelizmente. O segundo, era um volume emprestado de uma biblioteca municipal. Confesso que fiquei com uma vontade danada de não devolver “Feliz ano velho”, mas isso seria uma injustiça com outros leitores que ficariam sem conhecer essa grande obra literária.

Não ter esses dois livros, que foram tão importantes na minha vida, não faz diferença alguma pra minha mesinha de cabeceira. Afinal, eu também não possuo uma mesa na cabeceira da minha cama. Esse objeto de decoração está presente no meu dia-a-dia, apenas de forma imaginária. E, nesse objeto imaginado, estão amontoados algumas dezenas de livros – todos eles lidos. Depois do final da minha adolescência na companhia do livro de Marcelo Rubens Paiva, vieram outros tantos companheiros que estiveram ao meu lado nos momentos de solidão, alegria e reflexão. Desde o instigante “Morangos mofados” de Caio Fernando Abreu; algumas passagens rápidas pelo universo de Jorge Amado, em especial “Capitães de areia”; o sempre atual e realista “Não verás país nenhum”, de Ignácio de Loyola Brandão; alguns passeios pelas emocionantes e divertidas crônicas de Rubem Alves; até me deparar com os sempre perfeitos textos de Martha Medeiros.

Recentemente, os livros da escritora gaúcha Martha Medeiros, ocupavam o topo da minha imaginária mesa de cabeceira. Até que eu descobri “O filho eterno” do catarinense Cristovão Tezza. O romance baseado em acontecimentos autobiográficos me emocionou desde o momento em que li sua crítica, escrita por André Nigri, na revista Bravo! E, querem saber mais? Ao ler a “orelha” do livro de Cristovão Tezza, eu chorei sentado no banco de uma rodoviária. Por tudo isso, e muito mais, “O filho eterno” está lá, sempre ao meu lado, como um soberano na minha imaginária mesa de cabeceira.