sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Por favor: não impliquem com a minha cerveja sem álcool (afinal ela é "Cool")
(por Elano Ribeiro)




Sou daqueles que sempre levam prejuízo quando compra um jornal. Isso porque, normalmente, leio somente uma ou outra parte dele. Deixo de lado tudo o que diz respeito à política, economia, classificados, página policial (nada disso hoje em dia me faz perder tempo – pode, quem quiser, me chamar de alienado. Eu não ligo) e vou direto às páginas de comportamento, cultura, segundos cadernos e, às vezes, dou uma passadinha na parte de esportes, para ver se tem alguma notícia interessante sobre o Flamengo ou, sobre a sua maravilhosa torcida.

E, foi justamente em uma dessas páginas que ontem mesmo eu estava lendo uma matéria da jornalista Carolina Isabel Novaes, sobre o que é ser “Cool”. Segundo Isabel, está na moda usar essa expressão. Todo mundo quer ser “Cool”. A jornalista, em sua matéria, se propôs a tentar descobrir de fato, o melhor significado para a tal expressão. Para isso, ela entrevistou vários artistas que podem ser considerados “Cool”. Eu, talvez por uma questão de ignorância, mesmo depois de ler toda a matéria, continuei sem entender muito bem o que é esse negócio.

Porém, segundo alguns dos entrevistados, ser “Cool” significa, entre outras coisas, ir contra o sistema; não ser igual; não ficar preso aos modismos; Palavras da paulistana Andréa Bisker (uma das entrevistadas) “é não ter que ser bacana, é a valorização de “gente como a gente” .

Lendo e pensando nessa coisa de ser “Cool”, senti uma enorme vontade de voltar no tempo. Vou explicar o porquê: dias atrás, fui até um bar próximo de casa, para assistir ao jogo entre Flamengo e Atlético Paranaense. Quando cheguei, o tal bar (que é bem pequeno) já estava lotado. Entrei. Educadamente, cumprimentei a todos, como manda a etiqueta dos bem educados (mesmo quando se está dentro de um boteco repleto de homens). Até aí, seguia tudo dentro da normalidade. O “problema” começou quando eu pedi uma cerveja sem álcool para o balconista. Nesse instante, tive a sensação – e depois a certeza – de que todo o burburinho que havia dentro do recinto cessou. Todos passaram a prestar a atenção no meu pedido, como se eu quisesse algo proibido.

A atenção continuou voltada para mim e para o meu pedido (uma inocente lata de cerveja sem álcool) até o momento em que fui para a varanda do bar e sentei na única cadeira que ainda estava desocupada. Sem coragem de olhar para os lados – pois estava me sentindo como alguém que possui uma terrível anomalia – ainda pude ouvir um dos comentários: “que graça pode ter nessa porra, se o bom da cerveja é o álcool?”.

Daí minha vontade de voltar no tempo, ou então, ter lido sobre o assunto antes. Eu diria àqueles seres que são iguais a todos os outros: “escutem aqui meus nobres beberrões, por que vocês acham que todo mundo tem que agir da mesma forma que vocês? Vocês não sabem que o grande barato é não ser igual? É não fazer igual? É viajar com muita lucidez”. E, para finalizar com uma atitude (que eu consideraria “Cool” ao extremo) voltaria ao balcão e pediria em voz alta: “moço, por favor: mais uma cerveja sem álcool e dois torresmos sem gordura.”