sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Uma pretensa crônica para encerrar 2007
(por Elano Ribeiro - publicada na revista Crônicas Cariocas)


Esse texto deveria ser a minha última crônica de 2007. Digo, deveria, porque não sei se o que vai sair daqui poderá ser chamado de crônica. O problema não é a falta de assunto. Acontece que tudo o que começo a escrever não passa do primeiro ou segundo parágrafo. Parece que os textos ganharam vida própria e estão me dizendo: “não adianta, você não vai conseguir nos levar até o fim”.

Tudo bem, então. Resignadamente, descubro que as letras são muito mais fortes e determinadas do que eu, portanto, vou deixá-las à vontade para se colocarem como quiser nessa “folha de papel”. Sendo assim, estou me isentando de toda a responsabilidade pelo o que os senhores possam vir a ler aqui.

Comecei um texto sobre o meu desejo de chegar aos cem anos, como o grande arquiteto Oscar Niemeyer, mas desisti assim que me dei conta de que já estava falando em fraldas geriátricas. E o que é que Niemeyer tem a ver com fraldas geriátricas? Absolutamente nada, não é. As letras já estavam preparando uma armadilha para mim, e por muito pouco eu não caio nela.

Quando pensei em falar do ano que está findando, achei ter encontrado o tema perfeito. Pura bobagem. O texto estava tão sentimental que nem mesmo eu estava suportando. Só uma coisa nele estava interessante: a citação de um trecho de uma crônica (infelizmente eu não me recordo o nome do autor, agora) que diz que sempre devemos achar um motivo para que o nosso dia tenha valido a pena. Segundo o autor, pode ser algo grandioso, como a realização de um projeto. Ou, também, pode ser algo corriqueiro, sem muita importância, mas que faz o nosso dia valer a pena.

A lembrança da crônica cujo autor eu não me recordo o nome, surgiu por causa da pergunta de um grande amigo: “o ano de 2007 foi bom para você?”. Assim como devemos achar motivos para que o nosso dia tenha sido bom, acho que o mesmo deve ser feito com relação ao ano inteiro. E, somando os prós e os contras e tentando fazer com que os problemas – eles existem, é claro – pareça algo sem muita importância, posso dizer que o meu saldo em 2007 vai terminar pra lá de positivo. E o melhor de todos os créditos deve-se a chegada do meu filho João Pedro – desculpem caros leitores, mas eu não poderia encerrar o ano sem falar no meu filho.

Bom, já tenho quase uma página inteira escrita. Falta pouco, vamos lá! Onde estão minha criatividade e imaginação? Nossa! Agora é que estou me dando conta de uma coisa: como pode alguém chegar aos cem anos fazendo um trabalho que exige muita criatividade? Niemeyer deve ser mesmo um cara e tanto. Talvez se eu conseguir chegar aos setenta com idéias para escrever um romance já seja um grande lucro. Farei o seguinte: vou encerrar está pretensa crônica e ir até a cozinha tomar minha dose diária de carbamazepina. A vocês que ficam, um feliz Natal e até 2008.