quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Um longo mês de janeiro
(crônica publicada na revista eletrônica "Cronicas Cariocas"- www.cronicascariocas.com)

No último domingo do ano passado, a Revista O Globo (parte integrante do jornal O Globo) trouxe na sua edição de número 178, doze textos escritos por doze autores diferentes. Cada texto representa um dos meses do ano, que na ocasião estava por chegar. Dentre os doze trabalhos, dois se destacam: o dedicado ao mês de fevereiro é o interessante e divertido conto do escritor Antonio Prata. Nele, Antonio narra a história da volta de Jesus à Terra – mas precisamente no Brasil, no Rio de Janeiro – e os perrengues que o Santo Senhor enfrenta no ano de 2008. Só para se ter uma idéia da nova Via Crucis Divina, em determinado momento Jesus é confundido por um trio peruano, como sendo ele um traficante de drogas que vinha fornecendo maconha para a rapaziada na General Osório, e desta forma estaria fazendo concorrência com os três homens que dominavam a venda no local. Resultado: Jesus leva uma surra em plena praça de Ipanema.

No outro texto, não menos interessante, dedicado ao mês em que estamos, Marcelo Rubens Paiva diz que “janeiro é alegre como um comercial de cerveja”. O autor do celebre livro “Feliz ano velho” ainda faz várias outras comparações com o primeiro mês do ano, como por exemplo: “As mulheres parecem sorrir em janeiro”; “Janeiro tem gosto de água-de-coco”. Ou ainda: “janeiro é como uma piscina sem ondas, um livro ainda fechado, um presente ainda embrulhado”.

Marcelo Rubens Paiva acertou em todas as suas comparações. Mas acho que ele poderia ter incluído mais uma: “janeiro parece o início de um romance”. Afinal, é quente e apimentado, fazendo com que cada dia (cada encontro) seja excitante e renovador. Ou seja, janeiro é sinônimo de amor. E, se não bastasse tantos adjetivos, esse ano ele (o mês em questão) ainda terá um reforço extra e todo especial: o carnaval. A festa de Momo começa no dia 1º de fevereiro – eu particularmente, não me recordo de outro ano em que isso tenha ocorrido. Portanto, teremos a nítida sensação de que esse mês será um pouco mais longo. Sentiremos por alguns dias a mais, o doce gosto do mês de janeiro.

Na ficção do escritor Antonio Prata, o fim do mundo estava marcado para a quarta-feira de cinzas desse ano, mas acabou um pouco mais cedo, ainda no carnaval, com Jesus desfilando num bloco e tendo em suas mãos uma lata de Skol. Na vida real, o fim do mundo chegará – para muitos – mesmo na quarta de cinzas. Porém, os anjos do apocalipse virão na forma de nostalgia, de lembranças calorosas e de saudades da sempre presente sensação de ociosidade provocada pelos dias desse janeiro prolongado. Já as trombetas do juízo final soarão na volta da maioria de nós para o trabalho, através do barulho irritante do cartão de ponto e da voz estridente do patrão.

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