quarta-feira, 9 de abril de 2008

Livros, cheiros e cliques
(crônica de Elano Ribeiro, publicada na revista "Crônicas Cariocas" - www.cronicascariocas.com)

*Ilustração criada por Francci Lunguinho, autor do blog Zumbido Literário - http://www.globoonliners.com.br/icox.php?mdl=pagina&op=listar&usuario=7727

Quando estou dentro de uma livraria, me sinto como uma criança numa loja de brinquedos. Fico ansioso, quero tocar nos livros, folheá-los, sentir sua “pele” e até mesmo o seu cheiro. Isso mesmo: eu adoro sentir o cheiro dos livros. Por conta disso sempre preferi as livrarias pequenas, mais aconchegantes. Pois penso que nelas você pode ficar mais à vontade, além de ter sempre um vendedor a sua disposição pra lhe ajudar no quer for preciso. É possível até mesmo ouvir o barulhinho da máquina de café e, prazerosamente, sentir o aroma delicioso que ela exala. As grandes, as “Megastores” com aquele monte de gente entrando e saindo sem parar, todas falando alto e ao mesmo tempo, com interesses diversos – uns entram por causa dos livros, mas também tem aqueles que estão ali somente por causa dos CDs, dos DVDs e do cybercafé – às vezes me causam a impressão de estar numa feira ao ar livre. Sem falar que os funcionários estão sempre “escondidos” atrás de um monitor de computador ou andando freneticamente pela loja, tendo que dar atenção a várias pessoas ao mesmo tempo – o que faz com que ninguém receba, de fato, atenção alguma.

Já nos Sebos, vivo uma outra situação. Ao pegar um livro, sinto que ele já tem uma “história de vida”. A quem ele pertenceu? O que será que aquele exemplar, que ficou por muito tempo esquecido numa estante da sala ou do quarto de alguém, já não deve ter presenciado? Momentos de amor? De ciúmes? Famílias alegres, reunidas em torno da mesa em dias de festa? Ou o isolamento – voluntário ou não – de um ser solitário, convivendo diariamente com o silêncio? Seja o que for que aquele exemplar tenha vivido, é como se agora – exposto ali no Sebo – ele estivesse pedindo pra ser novamente adotado. E aquele que o adotar, estará levando consigo um “ser” carregado de boas ou más lembranças, com suas folhas limpas e bem cuidadas, ou sujas, amarrotadas e manchadas. Há uma alma, ou muitas almas nos livros.
Seja como for, numa livraria grande ou pequena, ou mesmo num Sebo, um livro será sempre um LIVRO. Por isso, ao contrário do que muitos dizem e professam, não acredito que Ele, na sua forma física e tradicional, seja substituído pelos chamados e-books (livros virtuais). Primeiro porque, mesmo que você esteja deitado na sua cama, utilizando um computador portátil, sempre será extremamente cansativo e desconfortante ler um exemplar inteiro através de um monitor. E segundo porque, nada substituirá o prazer de se ter um livro nas mãos, seja no momento da leitura ou no não menos prazeroso instante da compra do mesmo, naquela pequena, aconchegante e “saborosa” livraria, com todos os seus cheiros.

Talvez venha daí a minha dificuldade e relutância em comprar livros pela internet. Por diversas vezes entrei nas livrarias virtuais, escolhi o exemplar que eu queria, passei por diversas etapas para concluir a compra, mas na hora de dar o último clique com o mouse, para finalizar o pedido, eu desistia, convencido de que seria muito melhor esperar um pouco, ir até a livraria de uma cidade vizinha (visto que no município onde resido não existe nenhuma – que vergonha eu sinto em dizer isto) e realizar a compra da forma tradicional, o que sem dúvida alguma, pra mim, em se tratando de livros, será sempre a melhor, por mais que alguns venham argumentar sobre a praticidade e a comodidade que as compras pela grande rede proporcionam.

Mas, dias atrás, tomado pelo impulso de adquirir e ler rapidamente o livro “Aos meus amigos”, da Maria Adelaide Amaral, fui até o último clique (e olha que ironia: os correios entraram em greve). Porém, como era noite, bem próximo da madrugada, e havia quase uma completa ausência de sons a minha volta, consegui sem muita dificuldade, no exato momento em que eu apertei o botão do pequeno “ratinho” – que no meu caso é um sapo verde –, imaginar o livro em minhas mãos, e até mesmo sentir o seu cheiro. Consegui, inclusive, ouvir o delicado som da minha cafeteira, vindo lá da cozinha.

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