quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Cena de cinema

(crônica de Elano Ribeiro publicada na revista eletrônica Crônicas Cariocas)



Dias atrás, durante o trabalho, saí da minha sala e fui à copa tomar um café. Lá chegando, observei, sem nada entender a principio, que um grupo de colegas – todas mulheres – estavam em estado de euforia, observando algo que acontecia lá fora. Indaguei o motivo de tal agito, e a resposta veio prontamente: elas observavam uma cena da vida real que poderia bem ser coisa de cinema. A vida imitando a arte. O cenário: uma praça pública, sem muitos figurantes por conta do dia frio e chuvoso. Atores principais: um casal.

Ele havia chegado primeiro, trazendo um buquê de flores vermelhas. Encostou num muro à beira do rio, parecendo não se importar com a neblina, e lá ficou à espera dela (da amada?), que por sua vez, não tardou a chegar. Porém, segundo me disseram os colegas espectadores, ela não chegou com o sorriso típico dos enamorados que se encontram após romperem a barreira da espera e da expectativa pelo momento dos abraços e dos beijos.

A moça recebeu suas rosas e se colocou de pé ao lado do rapaz apaixonado(?). Permaneceu abraçada ao seu buquê, sem demonstrar muito entusiasmo, enquanto que ele soltava palavras que nós nunca saberemos quais foram. Ela parecia apenas emitir sons monossilábicos. E ele, com a paciência que o amor exige, tentou uma maior aproximação, um encontro das suas mãos com as das dela. Tudo em vão, visto que ela parecia irredutível, ou seja, as mãos dela continuaram sendo exclusividade das belas rosas vermelhas, que recebiam a brisa gelada dos últimos dias do outono.

Pode-se dizer que o filme não terminou com um final feliz. Pelo menos para ele, que ficou lá, sozinho, secando as lágrimas que escorriam pela sua face, enquanto via a decidida moça ir embora, levando consigo o belo buquê que havia acabado de receber. Talvez quisesse ela guardar aquelas pétalas vermelhas, mesmo depois de murchas, como lembrança do amor e da paixão que um dia existiu entre ela e o agora solitário rapaz.

Quanto aos espectadores, numa tentativa de “dar uma força” ao solitário rapaz apaixonado, soltaram gritos de “parabéns”, “muito bem”, “não desiste”, “viva o amor”... E mesmo sem entender exatamente o que aconteceu, sem saber se o rapaz era o “mocinho” ou o “vilão” da história, antes que ele se fosse (antes que as luzes se ascendessem, indicando o fim do filme), o público aplaudiu a cena, de pé.
Se a história de amor do casal terá uma continuação e, se terá um final feliz, isso só o futuro irá dizer.

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