sexta-feira, 27 de julho de 2007

Amor, nossa máquina do tempo
(crônica de Elano Ribeiro Baptista, publicada na revista "cronicas cariocas" - www.cronicascariocas.com.br)

A viagem no tempo deve ser mesmo o maior dos nossos sonhos, ela está presente na literatura, no cinema, na televisão. Talvez um sonho mais cobiçado do que qualquer conquista espacial, afinal, lá em cima, muito provavelmente, só encontraremos poeira e hipóteses. Muito provavelmente também nunca iremos criar aquela máquina dos filmes de ficção científica que, de uma hora pra outra, nos transporta através do tempo e do espaço. Mas, temos ao nosso alcance algo tão fantástico e menos utópico do que essas máquinas para nos levar nessa viagem. O AMOR. O mais nobre dos sentimentos propicia essa volta ao passado, para isso, basta ter amado algum dia e guardado dentro de si somente coisas boas de todos os amores vividos. Pra que guardar o que foi ruim?

Ela me contou que o seu celular tocou numa tarde dessas, num dia que tinha tudo pra ser igual aos outros. Trinnnnnn: “estarei no Rio de Janeiro amanhã, me encontre às 12 h, vou ficar esperando”. Se ela foi? É claro que foi. E sem que ela ainda soubesse estava acionando a sua maquina do tempo. Eles se reencontraram depois de vinte e cinco anos, tinham tido um namoro rápido no último período da faculdade. Mas quem foi que disse que o amor precisa de muito tempo pra ser vivido intensamente e deixar suas marcas? Ao final de seis meses de namoro eles se despediram e foram viver suas vidas bem distantes um do outro, sem trocar telefones e endereços, como o casal Jesse e Celine do filme “Antes do amanhecer” – olha eu falando outra vez desse filme – e construíram suas realidades atuais: trabalho, casamento, filhos.

O abraço apertado e demorado na porta do hotel onde ele estava hospedado foi o início do teletransporte para o passado. A viagem no tempo dos dois estava só começando. Caminharam de mãos dadas pelo calçadão, tomaram água de coco, deram risadas ao se lembrarem de histórias daquela época distante – distante só no tempo, pois na cabeça deles estava tudo mais atual do que nunca –, falaram sobre o rumo que a vida de cada um tomou... Talvez estivessem revivendo os sonhos e planos não realizados, mesmo sabendo que continuariam sem realizá-los, afinal, o portal de retorno ao presente não demoraria a se fechar, por isso, tudo precisava ser intenso: os sorrisos, os abraços, os beijos, os diálogos. Nenhum dos dois tinha a pretensão de mudar o passado, só queriam revivê-lo, e assim fizeram.

Os dias atuais dela, esses sim foram alterados, quem sabe até o futuro. Sua auto-estima, que andava meio por baixo, estava revitalizada, se percebeu ainda capaz de conquistar alguém, havia e há um novo brilho nos seus olhos. Mas, não pensem que a viagem de volta ao presente, é tão rápida quanto a de ida para o passado, isso porque, quando se retorna, trazemos aberto um baú – como ela mesmo disse. Baú que pode ser imaginário ou real. Nele existem fotos, cartas, recordações e questionamentos de todos os tipos. “Porque fizemos isso ao invés daquilo? Porque não foi tudo diferente? Porque não ficamos juntos?”. Leva certo tempo para aceitarmos o retorno à nossa vida de hoje, é como se acabássemos de acordar de um sonho bom, onde não cabiam tristezas e frustrações. Ela retomou aos poucos o seu cotidiano, esperando um novo telefonema, um trinnnnnn que possa novamente acionar a sua máquina do tempo.

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