quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Carlos, Bia, Eduardo e Fernanda
(por Elano Ribeiro - conto publicado na revista eletrônica "Crônicas Cariocas")

Carlos era apaixonado por Bia, que por sua vez gostava do Eduardo, mas este queria namorar com Fernanda, que para completar o “círculo de amores”, estava afim de Carlos, que dava aulas de Cinema na universidade onde Bia cursava o sexto período de História e pretendia muito em breve se pós graduar em “História Universal” e trabalhar como Historiadora no Museu Municipal, onde Eduardo era o Administrador, e este, não raramente, ao sair do trabalho, passava na locadora de filmes da Fernanda, ali perto, só para poder trocar alguns minutos de conversa com a empresária, que não escolheu esse ramo de negócio por acaso, mas sim, por ser ela, uma apaixonada por cinema, e foi justamente num festival de cinema, na cidade de Tiradentes, que Fernanda conheceu Carlos, que estava na cidade mineira para ministrar duas palestras sobre o “Cinema Novo”, e ao final de uma delas os dois foram apresentados e passaram o resto da noite conversando num dos bares da cidade, e quando deram conta de que o dia já estava amanhecendo ele fazia uma rápida análise do cinema nacional, desde Glauber Rocha com o seu “Deus e o Diabo na Terra do Sol” até os dias atuais, com José Padilha e seu polêmico “Tropa de Elite”, deixando Fernanda cada vez mais encantada por ele, e fazendo com que a moça desejasse que aquela noite não tivesse mais fim, mas ela terminou, com Carlos se despedindo no meio da praça central da Cidade Histórica, louco para voltar logo para as suas aulas e poder rever Bia, que andava cada vez mais apaixonada pelo seu curso, pelo seu trabalho e por Eduardo, que já havia percebido uns olhares diferentes e fingido não entender algumas frases de duplo sentido que a estagiária lhe lançava, pois ele pensava ser melhor não dar muita liberdade para a moça se aproximar ainda mais, afinal além dela ser quase uma funcionária do museu que ele administrava – em sua concepção, não ficava nada bem um relacionamento entre colegas de trabalho – , ele estava cada vez mais interessado em Fernanda, que depois de algum tempo telefonou para Carlos e o convidou para uma cessão de DVDs em sua casa, disposta a revelar seu interesse pelo professor, mas depois de alguns filmes e três garrafas de vinho, ela teve que controlar sua raiva enquanto Carlos lhe contava sobre a sua paixão secreta por Bia, que pouco dias depois estaria ouvindo da boca do próprio Eduardo que ela não seria contratada pelo museu ao final do seu estágio, não porque ela não fosse competente, mas sim pelo fato de ela estar cada vez mais misturando as coisas, e para ele isso era inadmissível, e para completar, ela ainda teve que ouvir de Eduardo que ele estava mesmo era interessado em manter um relacionamento sério e estável com a Fernanda, a dona daquela locadora de vídeos que ficava próxima ao museu, que um belo dia recebeu surpresa a visita de Carlos, todo eufórico e ansioso para lhe contar que havia tomado coragem e revelado seu sentimentos à Bia, e que a moça pouco tempo depois já tinha se atirado em seus braços e lhe jurava amor eterno, fazendo com que sua vida se tornasse perfeita, um pouco parecida com a de Fernanda, que se não andava assim tão empolgada, estava bastante satisfeita com sua nova rotina ao lado do Eduardo, que num outro belo dia entrou na locadora com um buquê de flores na mão, se ajoelhou no chão, e na frente de diversas pessoas revelou seu amor por Fernanda, que meio sem jeito, aceitou o convite de Eduardo para um jantar que marcaria o início de um romance que duraria por muitos anos, só terminando quando Carlos, já entediado de seu casamento com Bia – que por ser bem mais jovem e ter outros ideais, não andava em sintonia com o professor – pediu o divórcio para a então moça pós graduada, e reencontrou Fernanda, por acaso, num outro festival de cinema, lá mesmo em Tiradentes, e finalmente percebeu que havia muitas coisas em comum entre ele e ela, e dessa vez, os dois conversaram por várias noites seguidas, e numa das conversas descontraídas, ela revelou que seu relacionamento já não andava muito bem e estava prestes a acabar, pois o único ato de romantismo que Eduardo teve, foi aquele há alguns anos atrás lá na locadora, depois disso ele parecia administrar sua relação com Fernanda, como se tivesse administrando o museu, que aliás, estava precisando de alguém qualificado para ocupar o cargo de Historiadora, e após minuciosa pesquisa nos currículos recebidos, Eduardo concluiu que não havia ninguém mais capacitado do que Bia, sua antiga estagiária e futura namorada.

Nenhum comentário: