terça-feira, 18 de novembro de 2008

ECT
(publicado também na revista Cronicas Cariocas)
Chegou aos meus ouvidos, a notícia de que a agência dos Correios da minha cidade, a única que possuímos, irá fechar. Já tem até data marcada. Seus funcionários, segundo dizem, irão ser todos transferidos para o município vizinho. Ainda não sei até que ponto essas informações são verídicas. Mas, de qualquer maneira, toda essa história e – por enquanto – boataria, me fez lembrar do filme “Narradores de Javé”, dirigido por Eliane Caffé.

No filme, o personagem Antônio Biá é um ex-funcionário dos Correios, que foi expulso da cidade após fazer futricas e caluniar moradores em cartas enviadas a conhecidos, para salvar seu emprego, uma vez que a agência de Javé iria ser fechada por “falta de movimento”.

A saída encontrada por Antônio Biá, certamente não seria a melhor solução para impedir o fechamento da “nossa” agência. Se bem que, vez ou outra, cartas maldosas e ofensivas, dirigindo-se à políticos da situação e também da oposição, circulam pelas ruas de Mendes. Estas porém, não necessitam dos Correios, pois são postas por “baixo das portas” do comércio local, na calada da madrugada, enquanto todos os cidadãos dormem o sono dos justos (!?).

Tudo bem que estejamos em plena era digital, com quase todo mundo se comunicando pela internet, e que, por conta disso, a correspondência tradicional tenha se tornado algo pouco utilizado. Mas privar os cidadãos do convívio quase que saudosista dos nossos bons e bravos carteiros, que por décadas embalaram os sonhos de homens e mulheres enamorados, que sentiam um verdadeiro frio na barriga ao avistar aqueles funcionários do governo com suas bolsas a tiracolo, repletas de cartas apaixonadas, escritas em papel perfumado, já é um pouco demais. Principalmente para as pessoas que ainda não se acostumaram com toda a tecnologia – e sua conseqüente falta de romantismo – existente nos dias atuais.

Terei eu de me preparar para responder com um nó na garganta, provocado pelas lembranças “das épocas postais”, quando meu filho, que só tem um ano e meio de vida, e talvez não conheça pessoalmente a figura de um carteiro, me perguntar: “Pai, o que foi que existiu naquele prédio velho e abandonado”? Saberei eu lhe dizer que em tempos não tão distantes, era daquele lugar que partiam os nossos sonhos e realidades, alegrias e tristezas, esperanças e angústias, em forma de letras escritas em papel, “escondidas” dentro de um envelope carimbado e selado?

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