quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Um exercício de observação
(a loira narcisista, a morena com pinta de modelo e a adolescente gordinha)

Nunca fui um bom observador. Demoro para captar as coisas que estão acontecendo ao meu redor. Porém, de uns tempos para cá, tenho tentado ser “menos desligado”, até porque, um cronista que se preze e que gosta de escrever sobre o ser humano e suas atitudes, tem que estar atento aos detalhes do cotidiano.

Então, ontem (domingo, 12/10), tratei de realizar um exercício de observação. O lugar escolhido não poderia ser melhor: uma loja de calçados femininos. Entrei no recinto acompanhando minha esposa, Laura, e fui logo de me sentando num dos bancos do lugar. Escolhi um bem no cantinho, onde eu pudesse ter uma visão privilegiada de todos (ou todas) que ali se encontravam. Pronto, o local perfeito para “ficar de olho nas mulheres alheias”

Duas situações logo me chamaram a atenção. Vamos a elas:

Situação nº 1 - Uma loira, com seus vinte e poucos anos, bonita, grávida de cinco ou seis meses, trajando um vestido de estampas floridas, bolsa grande a tiracolo e uma sandália rasteira, entra na loja, examina com cuidado os modelos que se encontram nas prateleiras e pede à vendedora que lhe traga alguns deles, para que ela possa experimentá-los. A prestativa atendente se abaixa e calça os pés da moça com cuidados e carinhos típicos das atenciosas e dedicadas funcionárias desse ramo comercial. A loira segue para frente do enorme espelho. Mas para meu espanto (talvez só meu mesmo, pois acho que ninguém mais estava prestando atenção na moça), em vez de fixar seus olhos em direção aos pés, ela começa a ajeitar os longos cabelos, coloridos artificialmente diga-se de passagem. Mexe daqui, mexe dali, joga-os para a direita e depois para a esquerda, sucessivas vezes. Repete a mesma atitude com os outros pares que experimenta. Por fim, vai embora, sem comprar absolutamente nada, porém extasiada por satisfazer seu espírito narcisista.

Situação nº 2 - Uma esguia moça, com pinta de modelo, que flutua com seu corpo de mais de um metro e oitenta sobre um salto finíssimo, adentra o recinto. Parece não ter mais de vinte e um anos. Vem acompanhada de uma outra moça um pouco mais velha, um pouco mais baixa, um pouco menos bonita. Veste um modelito prata. Uma peça única, curtíssima e não muito larga, deixando boa parte de suas longas pernas a mostra e delineando bem os atributos de seus quadris e adjacências. Logo atrás dela vem uma outra jovem, provavelmente ainda adolescente. Essa é baixa, talvez tenha menos de um metro e sessenta e cinco, gorda, dona de “salientes extremidades” na altura do abdômen. Veste uma calça cinza, dessas que colam no corpo, uma blusa curta e um pouco “folgada” e botas de camurça com canos longos. Enquanto a moça com pinta de modelo experimenta vários modelos de sapatos e sandálias, a mesma é observada atentamente por mim e pela adolescente. Quando a primeira caminha em direção ao caixa para efetuar o pagamento das compras realizadas, a segunda concentra de maneira ainda mais intensa o seu olhar em direção ao corpo “perfeito” da primeira. Fico me perguntando o que a segunda deve estar pensando: “Olha que coisa horrível, toda magra. Sou mais eu”, ou “Que inveja! Como eu queria ser igual a ela”.

Laura, depois de mais de meia hora, finalmente decide o que vai levar para casa. Saímos da loja. Minha esposa pensando se fez a escolha certa ao optar pela compra de uma sapatilha cor de areia, mas que ela me disse que às vezes parece cor-de-rosa. Eu, pensando nas três “personagens” que acabara de observar, e suas respectivas situações. Desço e subo as escadas rolantes do shopping, feliz por ter realizado meu “exercício” de maneira paciente e atenta e sabedor de que já possuía material para escrever mais uma crônica do cotidiano.

Um comentário:

Unknown disse...

Olá Elano!
Tens janelas d'alma atenta. Viras o cotodiano ao avesso e devolve-nos com arte de cronista. Aproveito o ensejo e mando-lhe meu endereço de blog. frantape.zip.net

Abraço
Tadeu