domingo, 11 de fevereiro de 2007

Arlequins, Pierrôs e Colombinas, lá vem o carnaval.
(crônica publicada no dia 01/02/2007 na revista eletrônica "Cronicas Cariocas": www.cronicascariocas.com.br)



Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece. A minha parece que foi ontem, lembro de todos os detalhes: o vestido vermelho estampado de borboletas, a peruca ruiva, a bolsa tiracolo bege, o batom café, a meia-calça com fio puxado. Ah sim, do sutiã também, como poderia me esquecer dele? Não tive muitas dificuldades com o vestido e demais acessórios, a exceção da meia-calça, que me deu certo trabalho. Foi num domingo de carnaval. E como mãe não enxerga defeito nos filhos, a minha teve coragem de dizer que eu estava lindo travestido de mulher.

Encorajado por um grupo de amigos, apossei-me desses apetrechos e lancei-me plenamente no mundo do carnaval, que até então eu só assistia. Era o primeiro de muitos em que eu iria arrastar as sandálias por quilômetros, atrás de um bloco apinhado de pessoas caracterizadas das mais diversas, estranhas e divertidas maneiras. Graças a esse universo colorido e mágico, pude “descobrir” a música popular brasileira, em especial, o samba. Comecei a deixar de lado meus discos de roque progressivo e dar mais atenção às belas letras – verdadeiras poesias – de grandes mestres e compositores como Cartola, Carlos Cachaça, Noel Rosa, Paulinho da Viola e tantos outros. Passei a preferir mil vezes o som de um tamborim ou de um surdo de marcação, ao de uma guitarra metaleira.

Além dos sambas-enredo da Mangueira, havia um que me deixava extasiado, fazendo com que eu lançasse meus braços ao alto e soltasse a voz com toda força: “Vejam esta maravilha de cenário/ é um episódio relicário/ que o artista num sonho genial/ escolheu para este carnaval/ e o asfalto como passarela/ será a tela do Brasil em forma de aquarela/ passeando pelas cercanias do Amazonas/ conheci vastos seringais...”, se ainda houver alguém que desconheça essa pérola do samba, eu apresento agora: Aquarela Brasileira (Silas de Oliveira).

Mesmo hoje, que já não tenho mais o pique de anos atrás para suportar uma maratona carnavalesca, não resisto ao som de uma bateria bem ritmada, marcando a cadência do samba. Se já aposentei o folião que havia em mim, restou algo que inconscientemente reage aos acordes dos tambores, fazendo com que meus pés se movam na direção das ruas por onde passam milhares de pessoas em busca de uma mesma coisa: diversão.

Festa pagã? Não. Pra mim e para a maioria das pessoas, festa da alegria, das Colombinas, dos Arlequins e dos Pierrôs. Todos prontos para brindar a vida. Se o carnaval está repleto de paixões – em muitos casos irresponsáveis – que só duram quatro dias, mas deixam seqüelas irreversíveis, também há muito mais histórias de casais que se encontraram durante a passagem de um bloco e estão juntos há anos. Vidas que se entrelaçaram com amor, confetes e serpentinas.

Elano Ribeiro Baptista
Janeiro de 2007.

Um comentário:

Francci disse...

Parabéns Elano, seu blog está muito bem arrumado. E obrigado por difundir a cultura brasileira através do www.cronicascariocas.com.br