domingo, 22 de junho de 2008

Amigos e leitores: o blog "Diário de Bordo & A Poética Crônica dos Contos" estará de "férias" no período de 24/06 a 05/07. Durante esses dias, estarei participando das Oficinas do projeto "Revelando os Brasis", que teve, entre os 40 textos selecionados, o conto "Cahorro-Quente Vodu", de minha autoria.

O que é o Revelando os Brasis? Revelando os Brasis tem por objetivo promover a inclusão e a formação audiovisuais por meio do estímulo à produção de vídeos digitais. Dirigido a moradores de municípios brasileiros com até 20 mil habitantes, o projeto contribui para a formação de receptores críticos e para a produção de obras que registrem a memória e a diversidade cultural do País, revelando novos olhares sobre o Brasil.

Como funciona o projeto? A partir de um Concurso de Histórias destinado somente a moradores de municípios com até 20 mil habitantes, os interessados enviam textos contando as histórias (reais ou de ficção) que gostariam de transformar em vídeo. Quarenta histórias são selecionadas, e seus autores participam de oficinas preparatórias de roteiro, direção, produção, fotografia, som, edição etc. Na etapa seguinte, os selecionados colocam em prática o aprendizado recebido, retornando a suas cidades para a realização dos vídeos.

Cachorro-Quente Vodu
(por Elano Ribeiro)

Estou atrás de um dos gols da quadra de futsal. Apenas uma grade e alguns poucos metros me separam da baliza. Posso sentir o cheiro do suor que sai dos poros da pele do goleiro. Quase posso ouvir os batimentos cardíacos do goleiro: acelerados, descompassados, arrítmicos, frenéticos. A rivalidade entre o time da casa e o visitante (dois municípios vizinhos) sempre foi conhecida na região, mas nunca esteve tão acirrada. Os “caras de lá” levaram dois dos melhores jogadores dos “caras de cá” pra essa temporada. Bola no centro, árbitros apostos, jogadores eufóricos, torcida tensa: vai começar o jogo. Vai começar a maior manifestação de amor e ódio do brasileiro (e pela quantidade de mulheres em volta da quadra, das brasileiras também).

Amor: o time vai bem, é líder do campeonato, todos os jogadores são craques (para alguns eles são quase semi-deuses), que normalmente nunca erram (apenas dão azar, às vezes), o treinador é o professor (use ele prancheta ou não, saiba ele falar bem ou não, saiba ele escrever corretamente ou não).

Ódio: o time vai mal, vai ser rebaixado, os jogadores são pernas-de-pau (alguns deles deveriam ir para o inferno), que normalmente nunca acertam um lance sequer (e quando acertam é porque deram sorte), o treinador é um burro e filho de uma mãe que nunca está presente para questionar os diversos “adjetivos” que lhes é atribuída.

Na quadra começa a partida, rola a pelota. O time da casa – considerado inferior depois da perda dos dois atletas para o time adversário – sai na frente: 1 x 0; o time visitante se mostra nervoso: 2 x 0; recuo um pouco da posição em que estava (cotovelos apoiados no muro que circunda a quadra) para dar lugar a uma menininha de seis anos de idade, que a todo momento me faz perguntas: tio, aquele ali de cabelo esquisito é do nosso time?; tio, porque é que tem um moço vestido todo de preto? (tenho vontade de lhe responder que ele está de luto pela própria morte, que irá acontecer caso ele não apite corretamente); tio, o que acontece se ninguém fizer gol?

A todo o instante a menininha de seis anos de idade sai do lugar que eu lhe cedi, diz que tem muita vontade de fazer xixi. Sempre fico na expectativa de que ela não vá voltar, e dessa forma, eu possa ocupar novamente o lugar que por direito é meu. Mas ela sempre volta. Dessa última vez, ainda voltou com um cachorro-quente nas mãos, praticamente sem molho algum, só mesmo uma salsicha dentro de um pão. Enquanto eu começo a me preocupar se a menininha de seis anos de idade não vai vomitar todo aquele sanduíche nos meus pés, o time da casa faz 3 x 0: delírio total da torcida. Acho que vamos golear. Mas na mesma proporção em que o sanduíche (cachorro-quente ou pão com salsicha, já não sei mais precisar o que é aquilo que a menininha de seis anos de idade come) vai acabando, também vai diminuindo o ímpeto do time da casa.

Começo a suspeitar que o potencial do time dos “caras de cá” têm a ver com aquela mistura de farinha, água, sal, ovos e mais a porra da salsicha (que de sólida, vai aos poucos se transformando numa coisa pastosa, de tanto que a menininha de seis anos de idade a comprime dentro daquele pão “suspeito”). Mais uma mordida: 3 x 1; outra mordida: 3 x 2. Sinto-me responsável, preciso deter a fúria-comilona-devoradora-de-cachorros-quentes: “por favor, a garotinha poderia terminar de comer seu sanduíche depois que o jogo acabar?”. “Não posso esperar tio, está muito gostoso e eu estou com muita fome”. O time dos “caras de lá” cometem a sexta falta: tiro livre pra gente. Vamos ampliar o placar e sair do sufoco. Não. O jogador (o melhor que temos, o craque, nossa promessa de gols) perde o gol. A bola vai justo na direção do goleiro. Percebi que no momento do chute aquele projeto de sanduíche levara mais uma mordida. Resta-me pedir ajuda aos céus. Deus parece ouvir minhas súplicas: encerra-se o 1º tempo.

Curiosamente, a menininha de seis anos de idade interrompe a sua degustação juntamente com o apito do arbitro, que finalizou a primeira etapa. Ela simplesmente parou de comer o maldito sanduíche-cachorro-quente-pão com-salsicha. Envolveu o que restava daquela massa já disforme num saco plástico. Certo da influência maligna que aquela coisa vem exercendo sobre o time dos “caras de cá”, pergunto aliviado: “ah, então você resolveu acabar de comer essa coisa em casa?” “Não, tio. Estou guardando a outra metade pra quando o jogo começar de novo. Tio, porque que o jogo parou?”. Achei melhor não responder, afinal deve haver algum parente da menininha de seis anos de idade por perto e, certamente, ele ou ela não vai gostar de ouvir minha resposta. Mas, sinceramente, já começo a achar que o jogo nem devia ter começado. Mas começou. E acaba de recomeçar.

Junto do apito estridente do “homem de preto”, ordenando que a bola volte a rolar sobre o piso de cimento, vem o barulho quase que insuportável do plástico se abrindo. De dentro dele, do saco plástico agora todo aberto, vem o cheiro enjoativo da dupla mais suspeita e perigosa da noite: o pão e a salsicha.
No mesmo instante, a fúria-comilona-devoradora-de-cachorros-quentes volta a abocanhar o que já foi um inocente sanduíche. Numa tentativa de demonstrar que não existe qualquer cumplicidade entre ela e a tal dupla infernal, a menininha de seis anos de idade grita o nome do time da casa, mas as palavras que saem da sua boca vêm acompanhadas de um farelo de cor indescritível, resultado do encontro da farinha, água, sal, ovos e mais a porra da salsicha com a sua saliva. A mal educada grita com a boca cheia, e junto dos farelos que irrompem da sua boca como lavas sendo jorradas de um vulcão no exato instante em que ele entra em erupção, vem mais um gol do time visitante: 3 x 3. “Porra, eles vão virar o jogo se essa criatura, que deveria ser um anjo – mas está longe disso –, não parar de comer essa porra nojenta.” – penso eu em voz quase baixa.

Estou definitivamente certo de que o sanduíche é uma espécie de vodu. A cada mordida que ele leva, os jogadores do time de cá perdem suas forças, e a fúria-comilona-devoradora-de-cachorros-quentes é a mestra involuntária dessa magia. O jogo prossegue num ritmo alucinante: o time visitante ataca sem parar, enquanto que o time dos “caras de cá” só faz se defender. Sinto que a coisa não vai acabar bem. Estou quase arrancando das mãos da menininha de seis anos de idade o que resta daquela mistura explosiva. Não. Se eu fizer isso vou ser linchado aqui mesmo. Um cara do meu tamanho e da minha idade atacando uma criança indefesa – todos vão achar que eu sou um louco faminto tentando roubar aquele resquício de sanduíche. Resolvo ficar na minha, junto com minhas orações, que hão de ser mais fortes que qualquer magia.

Faltam vinte segundos pra acabar a partida. Do jeito que a coisa vai o empate será um ótimo resultado pra gente. Nas mãos da menininha de seis anos de idade ainda resta uma pequena migalha daquilo que já foi alguma coisa. Ela se prepara pra abocanhar o último pedaço. O time dos “caras de lá” ataca velozmente pela esquerda. A menina abre ainda mais sua boca pra receber o último pedaço. O time dos “caras de lá” tem direito a um lateral, bem próximo do gol do time dos “caras de cá”. Faltam quinze segundos. O lateral é cobrado. Treze segundos. O último pedaço começa a adentrar na boca da fúria-comilona-devoradora-de-cachorros-quentes. Um jogador do time dos “caras de lá” passa pelo goleiro do time dos “caras de cá” e lhe dá uma cuspidela na cara. Dez segundos. O goleiro sai do gol com a bola em jogo pra reclamar com a arbitragem da agressão sofrida. Cinco segundos. A menininha de seis anos de idade aplica o golpe mortal naquilo que já foi alguma coisa. Ela morde. A bola é cruzada na área. O goleiro não está lá. A bola bate na perna do pivô do time dos “caras de cá” e entra lentamente pro fundo das redes: 4 x 3. O jogo acaba. O sanduíche acaba. Fomos derrotados. A menininha de seis anos de idade embola o saco plástico que revestia o sanduíche (ou aquilo que já foi alguma coisa) e joga pro alto. A embalagem plástica cai igual a um pára-quedas sobre minha cabeça. A fúria-comilona-devoradora-de-cachorros-quentes some em meio à multidão que, desolada e frustrada, retorna aos seus lares (alguns não menos frustrantes e desoladores). O que eles e mais os jogadores do time dos “caras de cá” (que agora estão todos reunidos sentados no centro da quadra tomando um esporro do treinador) não sabem, mas eu tenho certeza, é que o jogo foi perdido por causa da dupla mais suspeita e infernal da noite: um pão e uma salsicha. Ambos “comandados” (ou seriam, treinados?) por uma menininha de seis anos de idade.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Espelho, espelho meu
(por Elano Ribeiro. Crônica publicada na revista eletrônica Crônicas Cariocas)

Em entrevista à revista Bravo!, do mês de maio desse ano, o cantor Ney Matogrosso diz que, num determinado dia, no início da turnê de seu mais novo show – Inclassificáveis –, sentira muitas dores musculares, provocadas pelos esforços que a apresentação da noite anterior lhe demandara. Por conta disso, ponderou: “é, não vai rolar... Não dou mais conta”. Foi aí que ele resolveu consultar o psicólogo que o orienta há séculos: o espelho.

Na mesma revista, numa suposta carta à Woody Allen, Domingos de Oliveira escreveu: “...O tempo passa como um rato na sala. Se tirarmos todos os espelhos da casa, passaremos melhor o dia...”

Espelhos: psicólogos para alguns, carrascos para outros. Testemunhas oculares da influência que o tempo exerce nas nossas vidas (leia-se aqui, nossa pele, esse revestimento perecível), de momentos íntimos – êxtase ou frustração–, de encontros e desencontros, das mensagens de amor escritas em seu “corpo” com batom vermelho, de sorrisos e lágrimas, de dores e curas, de nascimentos e mortes, de começos e fins.

Espelhos quebrados nos garantem sete anos de azar, dizem os supersticiosos. Por outro lado, refletem a nossa imagem partida, como se, de repente, nos transformássemos em dois. Duas fatias do mesmo ser. Um único cérebro que poderá, enfim, agir emocionalmente e racionalmente ao mesmo tempo. Um mesmo coração que terá, assim, permissão para amar duas pessoas simultaneamente. Um mesmo corpo que poderá, finalmente, se auto-observar em tempo integral – isso, se os dois lados do mesmo corpo caminharem de mãos dadas –, e contrariando as leis impostas pela física, ocuparão dois lugares ao mesmo tempo.

Espelhos, alguns muito grandes, colocados nos camarins dos artistas. Uns presenciarão o calor dos fãs, afoitos por um contato mais íntimo com o ídolo, desnudo das maquiagens, roupas e facetas que o personagem exigia. Outros, farão companhia aos solitários, quase anônimos, artistas circenses, que aos poucos vão retirando de seus rostos o brilho das tintas e purpurinas já desbotadas pelas lágrimas que lhes escorrem por conta dos aplausos negados pelo escasso público, e pela certeza de uma vida longe dos holofotes da fama e dos palcos de muita luz.

Na minha pequena casa existe um único espelho. Também não é grande. Minha esposa reclama: “não consigo me ver por inteira”. Eu, particularmente, acho que ele está de bom tamanho. E, a exemplo de Ney Matogrosso, o considero meu psicólogo pessoal. Perdi a conta de quantas vezes me coloquei na sua frente e lhe aluguei com meus problemas e dilemas. Suas sessões têm um preço bem acessível: vez ou outra um reparo na sua moldura, ou um pano úmido para lhe tirar as manchas de pasta de dente e dos desenhos feitos com as pontas dos dedos.

De frente para o meu psicólogo de parede, compartilhando do seu silêncio quase transparente, tento – muitas vezes em vão – não enxergar a imagem que ele reflete. Não que ela me cause aflições, pelo contrário, gosto dela, como uma espécie de Narciso dos tempos modernos. Sinto-me em paz e feliz com cada contorno que a pele da minha face adquiriu ao longo dos anos e, normalmente, deparo-me com um sorriso refletido. No entanto, esforço-me para buscar a imagem que existe dentro da imagem, e a outra dentro daquela, e mais a outra por detrás da outra e da outra..., até que eu consiga chegar no garoto de muitos anos atrás, cheio de sonhos joviais, que não tinha a menor noção do significado prático da palavra “problema”, e que via o espelho apenas como um objeto decorativo.

quinta-feira, 12 de junho de 2008

“AMIZADE”
(por *Fátima Rodrigues Marinho)

A amizade é algo indescritível. É saber querer bem e também sentir-se querido.


Quanta alegria nos dá o encontro com os amigos. Um simples “bate-papo”, um abraço, um olhar, um sorriso.

Amigos verdadeiros, mesmo, existem poucos. Talvez não tenhamos nem a quantidade dos dedos das mãos, mas no caso Amizade, não importa a quantidade e sim, e principalmente, a qualidade.

Ter poucos amigos, porém sinceros, companheiros, presentes em todas as horas, prontos para ajudar sempre que necessário, para vibrar com nossas conquistas como se deles fossem, para chorar conosco na hora da nossa dor, isso não tem preço É de um valor inestimável.

Esses que estão presentes em todos os momentos é que são amigos verdadeiros. E, graças a Deus, eu tenho esses amigos. E como os amo! Como são importantes para mim! Quanta saudade me dão se fico algum tempo sem vê-los ou levo alguns dias sem com um deles conversar.

Quando viajo, como me lembro deles! Que vontade que me dá de tê-los junto comigo, compartilhando daqueles momentos tão animados, tão divertidos. Cada lugar novo que conheço, eles sempre me vêm à mente! E começo a pensar: “Nossa! Como iriam gostar daqui! Quantas brincadeiras poderíamos fazer! Tudo aqui seria bem mais bonito e melhor, se eles aqui estivessem!”

Sei que com eles isso também acontece, pois aqueles que costumam viajar, sempre me enviam um cartão postal do lugar em que se encontram e repleto de palavras de carinho. Prova de que também estou no pensamento deles. Que mesmo distante deles, estou sendo lembrada. Como isso é gostoso! Nos dá uma sensação agradável. Nos enche de prazer e nos emociona.

Amigos desse tipo, que largam tudo, tudo mesmo, para nos dar o apoio, o amparo, para nos prestigiar também nos momentos festivos, eu tenho SEIS. Já provaram isso inúmeras vezes. São FANTÁSTICOS! Isso enche o meu coração de uma felicidade imensa e parece que ele aumenta, bate mais forte e fica cheinho de amor.

No entanto, Amizade é algo mais amplo, não se prende somente a pessoas que se vêem, que se conhecem pessoalmente. Amizade é muito mais que isso. Quantos amigos temos que nem sequer sabemos como é sua voz, seu rosto, seu sorriso. Mas estes também existem e não são menos importantes. Estes são os chamados amigos virtuais. Desse tipo tenho menos, somente QUATRO, mas os estimo da mesma maneira. São tão importantes e queridos como os reais.

E por que da importância destes? Porque eles também fazem parte da nossa vida, da nossa história, estão sempre presentes no nosso pensamento e no nosso coração. Eles nos conhecem (interiormente), sabem como somos, sabem do que gostamos. E com isso estão sempre em contato conosco. Já nos fazem falta também. Ficar algum tempo sem um e-mail desses amigos já nos faz pensar: “O que estará havendo? Estará doente? Com algum problema? Terá o computador enguiçado? Ou quem sabe, melhor ainda, estará viajando, passeando, aproveitando a vida?” Um desses amigos viaja muito; mas sempre avisa quando vai viajar e entra em contato assim que retorna, contando da viagem e das maravilhas que viu. Dos outros três só um que sumiu uma vez. Fiquei bem preocupada, pois tirando os e-mails, não temos outro meio de comunicação. Mas, graças a Deus, não foi nada demais, o computador dele havia “pifado”. Que alívio!

Portanto, tanto REAIS como VIRTUAIS o que vale é o elo que nos une, que nos liga; às vezes ficamos um pouco tristes, astral meio baixo (comigo isso é meio difícil, pois sou de temperamento alegre), mas em algumas ocasiões acontece. Afinal, faz parte do ser humano. Ninguém, por mais que queira, pode ficar triste ou alegre a vida inteira. Há sempre um momento que uma saudade, uma tristeza bate em nós e aí vem aquele amigo real, nos estende a mão, nos oferece o ombro, nos abraça, nos reconforta. Ou então o amigo virtual, que através do seu e-mail, mesmo sem saber, nos envia uma mensagem com palavras positivas, ou um clipe musical espetacular, ou uma piada bastante engraçada, enfim... Faz com que o alto astral retorne, a alegria volte, o sorriso torne a aparecer.

Pronto! É como se uma fadinha surgisse e que com o seu condão mágico dissipasse aquela nuvem e trouxesse de volta a luz, o sol, o brilho no olhar.

Amizade é isso. É fazer o amigo feliz. É se preocupar com os problemas dele e tentar ajudar a encontrar a solução. É aplaudi-lo entusiasticamente nos momentos de sucesso. É estar pronto para ouvi-lo sempre que ele precisar. É incentivá-lo sempre e jamais permitir que desista. É encorajá-lo para que alcance suas metas. É estar presente num momento de fracasso ou desilusão. É fazer uma crítica, às vezes de forma dura, mas sabendo que é para o seu bem. É jamais mentir, mesmo sabendo que a verdade possa doer. É, embora reconhecendo seus defeitos, gostar dele assim mesmo. É não ter hora para telefonemas nem para recebê-lo em casa. É enfim, ter porta e coração abertos as vinte e quatro horas do dia para ele.

Ah! Que coisa mais linda é a Amizade! É uma grande riqueza! Quem tem amigos, mesmo poucos, é riquíssimo, pois a verdadeira Amizade é uma bênção de Deus.

Gostaria muito de um dia poder reunir todos os meus amigos: REAIS e VIRTUAIS e dar uma grande festa e agradecer a cada um pela jóia rara e valiosa que são.

Uma festa onde viveríamos o grande momento de poder saborear, todos juntos, o que há de mais belo na vida: O VALOR DA AMIZADE!!!


* Fátima Rodrigues Marinho é professora de Língua Portuguesa/Literatura

domingo, 8 de junho de 2008

Pulsar
(texto de Andreá Rodrigues Duarte, Dea, publicado originalmente no blog Palavra Dita)

Mesmo não sabendo onde estava indo
Tudo lhe parecia conhecido
De encontro com o desconhecido
Se sente acolhido.
A principio nem ao menos
Sabe o que estais fazendo.
Mas não se permite questionar.
Mas apenas prosseguir,
Se aventurar
E dessa forma improvisar.
Viver sem nada a temer
Não há o que perder.
Quando não se tem nada
Apenas um solitário
e pulsante coração

Que não desiste de procurar,
E dessa forma se encontrar
E apenas por alguns momentos se alegrar.

Porém sente que existe algo a mais a conquistar
E essa está ao alcance de suas mãos.
Não deixará escapar,
Mesmo que tenha que se machucar,
Tamanha esperança
E forte brilho em seu olhar

quarta-feira, 4 de junho de 2008

ESSA TAL FELICIDADE
(por Elano Ribeiro. Crônica publicada na revista eletrônica Crônicas Cariocas)

Para Miguel Barroso e Fátima Rodrigues. Duas amizades conquistadas recentemente. Duas pessoas que me trazem felicidade.

Aqui do meu cantinho, onde digito meus textos, ouço o som que vem lá da sala, saído do aparelho de TV, com a voz inconfundível do Toquinho. Ele canta “Só tenho tempo pra ser feliz”. Nesse mesmo instante, versos de outra canção brasileira me vêm à cabeça: “... ao encontrar você eu conheci / o que é felicidade meu amor”

Começo, então, a pensar na idéia de felicidade. E me dou conta de que existe um leque de motivos para que eu faça um brinde a tão desejado, e às vezes tão distante, sentimento. Distante para os que dizem: “não é fácil ser feliz”. Sempre presente àqueles que não buscam uma felicidade cem por cento, ou seja, em todos os pontos e momentos da vida – até porque, ela muito provavelmente não existe.

Dizem que Ela está nos pequenos detalhes. Talvez venha daí a dificuldade que alguns tenham de entendê-la e de senti-la. Espera-se demais da vida para poder dizer: “eu sou feliz”. Para muitos, só existe felicidade se houver por detrás dela, um carro – de preferência zero quilômetro –, uma polpuda conta corrente, viagens nos finais de semana, um trabalho que não seja cansativo, monótono, chato ou desgastante.

Antes que alguns comecem a me criticar, vou logo avisando que não vejo nada de errado em se querer passear – eu mesmo, se pudesse, viajaria com intensa freqüência –, e se tiver um bom carro e dinheiro sobrando para se gastar sem precisar se preocupar com o dia de amanhã, melhor ainda, pois certamente o passeio se tornará mais prazeroso. Bom mesmo será, se você for um dos felizardos que trabalha com o que gosta, com o que sempre sonhou. Aí, nem a certeza de que existem as segundas-feiras irá lhe abalar ou tirar o seu ânimo.

O problema, é que a maioria de nós depende dos ônibus e trens lotados, o orçamento estoura antes do fim do mês, passeia-se somente uma vez ou outra, e o emprego – quando se tem – está longe de ser o desejado. Isso não quer dizer que não possamos ser felizes. A felicidade existe, ela só está presente em outros pontos. Experimente buscá-la no sorriso de seus filhos; num domingo ocioso ao lado da família; no prazer de assistir a um filme, embolado debaixo das cobertas, com alguém que você ama; no encontro com os amigos; na alegria por reencontrar um colega de infância.

Se a felicidade não se faz cem por cento presente, da forma como você um dia idealizou, tente, então, não projetá-la ainda mais. Em vez disso, viva intensamente os cinqüenta, sessenta, sessenta e cinco por cento que você possui. Conselho dado por um amigo: “viva um dia de cada vez”. Minha opinião: “busque aumentar o seu porcentual de felicidade, vivendo as alegrias diárias que lhe cercam, mesmo que elas pareçam simples demais”.

domingo, 1 de junho de 2008

BIBLIOTHÈQUE EN FEU
(por Miguel Barroso)

sei que algures dentro de nós existe uma biblioteca
em prateleiras de mel que escorrem para quem amamos
e de dentro das sedas que lambem os livros respiras tu
em eternos sopros de dádiva e saber
em cascos húmidos de humanidade

sei que algures dentro de nós existe uma biblioteca
com livros livres de lombadas e paginação
perto das memórias intemporais do amor
em que se cedem cópulas alquímicas e misteriosas

sei que algures dentro de nós existe uma biblioteca
em que se a cuidas, casa-alma,
dita-la para mime o graal surge, em forma de beijoi
mponente, cristalino, honesto e unicelular

(são as salivas dos livros que não li e me mostrasos desejos de sorver o palato da tua biblioteca)

e sem falar mais de livros,

falemos de amor…

aquele tabu em que se diz nada se poder definir

pois eu defino o que sinto na saliva das palavras - simbiose comunicacional
- que o amor sou eu
em forma de nós
como um copo de mar sem peixe
como um copo de mar com peixe
como mares sem ou com copos

porque o graal eu descobri
é seda preta e distinta, no recolher sóbrio dos teus medos
na conversão una das tuas expectativas e desejos

ensejo então fundir
abraçar a morte física como gás que respiras

porque posso

porque sim

porque quero

- lembra-te que sou alquimista –

e da distância faço a cama de lavado
e dos ossos obtenho abraços
e de todas as bibliotecas de todas as existências em todos os mundos
manda o amor
e o amor sou eu

e eu apanho a natureza no coração com uma rede indestrutível
e sôfrego toco-te um dedo
o dedo sensível com que intuis as coisas do mundo de todos os mundos

e se há mundos que desconheces, eu - alquimista-bibliotecário -
dilacero o peito

rasgo-me ao meio

sou um corpo-casa da alma-biblioteca

lê o que quiseres

tirem-te o pão,
tirem-te membros,
tirem-te alegria,
tirem-te o que amas, tirem-te a luz
e a esperança, tirem-te o riso e aquilo a que chamas de vida,
tirem-te. a ti.

façam o que fizerem, tirem-te o que te tirarem,
nada disso conta
pois vens a meu peito aberto e lês o que quiseres

…e se nada nessas palavras te afagam
encosta o teu rosto ao sangue quente do meu peito
e segredar-te-ei que te amo

que tu és tu

e que és quem amo

livro de mim

livro de ti

livres em nós,
no amor universal