quarta-feira, 4 de junho de 2008

ESSA TAL FELICIDADE
(por Elano Ribeiro. Crônica publicada na revista eletrônica Crônicas Cariocas)

Para Miguel Barroso e Fátima Rodrigues. Duas amizades conquistadas recentemente. Duas pessoas que me trazem felicidade.

Aqui do meu cantinho, onde digito meus textos, ouço o som que vem lá da sala, saído do aparelho de TV, com a voz inconfundível do Toquinho. Ele canta “Só tenho tempo pra ser feliz”. Nesse mesmo instante, versos de outra canção brasileira me vêm à cabeça: “... ao encontrar você eu conheci / o que é felicidade meu amor”

Começo, então, a pensar na idéia de felicidade. E me dou conta de que existe um leque de motivos para que eu faça um brinde a tão desejado, e às vezes tão distante, sentimento. Distante para os que dizem: “não é fácil ser feliz”. Sempre presente àqueles que não buscam uma felicidade cem por cento, ou seja, em todos os pontos e momentos da vida – até porque, ela muito provavelmente não existe.

Dizem que Ela está nos pequenos detalhes. Talvez venha daí a dificuldade que alguns tenham de entendê-la e de senti-la. Espera-se demais da vida para poder dizer: “eu sou feliz”. Para muitos, só existe felicidade se houver por detrás dela, um carro – de preferência zero quilômetro –, uma polpuda conta corrente, viagens nos finais de semana, um trabalho que não seja cansativo, monótono, chato ou desgastante.

Antes que alguns comecem a me criticar, vou logo avisando que não vejo nada de errado em se querer passear – eu mesmo, se pudesse, viajaria com intensa freqüência –, e se tiver um bom carro e dinheiro sobrando para se gastar sem precisar se preocupar com o dia de amanhã, melhor ainda, pois certamente o passeio se tornará mais prazeroso. Bom mesmo será, se você for um dos felizardos que trabalha com o que gosta, com o que sempre sonhou. Aí, nem a certeza de que existem as segundas-feiras irá lhe abalar ou tirar o seu ânimo.

O problema, é que a maioria de nós depende dos ônibus e trens lotados, o orçamento estoura antes do fim do mês, passeia-se somente uma vez ou outra, e o emprego – quando se tem – está longe de ser o desejado. Isso não quer dizer que não possamos ser felizes. A felicidade existe, ela só está presente em outros pontos. Experimente buscá-la no sorriso de seus filhos; num domingo ocioso ao lado da família; no prazer de assistir a um filme, embolado debaixo das cobertas, com alguém que você ama; no encontro com os amigos; na alegria por reencontrar um colega de infância.

Se a felicidade não se faz cem por cento presente, da forma como você um dia idealizou, tente, então, não projetá-la ainda mais. Em vez disso, viva intensamente os cinqüenta, sessenta, sessenta e cinco por cento que você possui. Conselho dado por um amigo: “viva um dia de cada vez”. Minha opinião: “busque aumentar o seu porcentual de felicidade, vivendo as alegrias diárias que lhe cercam, mesmo que elas pareçam simples demais”.

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