quinta-feira, 29 de março de 2007

SINTO VERGONHA DE MIM
(Rui Barbosa)

Sinto vergonha de mim por ter sido educador de parte desse povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade e por ver este povo já chamado varonil enveredar pelo caminho da desonra. Sinto vergonha de mim por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente, a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o "eu" feliz a qualquer custo, buscando a tal "felicidade" em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo. Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo, a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos "floreios" para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre "contestar", voltar atrás e mudar o futuro. Tenho vergonha de mim pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer... Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir pois amo este meu chão, vibro ao ouvir meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade. Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
***
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto". (Rui Barbosa)

quarta-feira, 28 de março de 2007



Patriotismo passageiro

Crônica escrita por Elano Ribeiro Baptista, publicada hoje na revista eletrônica "Cronicas Cariocas"

"O patriotismo do povo brasileiro é algo interessante. Geralmente, ele tem data pra começar e data pra acabar. Vamos chegar às janelas agora e olhar em volta. Alguém está vendo uma bandeira do Brasil na varanda de alguma casa? Provavelmente não, nem nas nossas próprias. Quantos de nós sabemos cantar o hino nacional de cor e salteado? Costumamos manifestar todo o nosso amor à pátria, principalmente, quando a seleção brasileira entra em campo – em especial na época de Copa do Mundo –, colocamos nosso espírito patriótico em prática e defendemos as nossas cores com muitos gritos e fogos de artifício. Em caso de vitória, faremos festa, e de peito aberto cantaremos: Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor. Mas, só se ganharmos o jogo..."

Acesse: www.cronicascariocas.com.br

domingo, 25 de março de 2007

Travessia
(por Flora Regina)

Precisava sair, sufocava dentro de si mesma. A própria casa a oprimia, as paredes ora encolhendo, ora se expandindo, tornando-a mais frágil e insignificante a cada momento. O coração pulsava debilmente, a respiração tornava-se cada vez mais difícil, a visão turva e a pouca audição lhe negavam a percepção do que ocorria à sua volta, as mãos já não sentiam o que tocavam, as pernas e os braços trêmulos a impediam de mover-se, fazendo com que se arrastasse pelos corredores, apoiando-se aos móveis e tropeçando nos pedaços do passado que estavam espalhados pelo chão. O cão se coçava gemendo fracamente para as pulgas que o importunavam, ou rosnava baixinho, protegendo um osso imaginário enquanto cochilava. A gata dormitava à janela, observando indiferente a angústia que imperava em seu redor.

Suspirou profundamente e num esforço supremo, arrastou-se até a porta e a abriu de par em par, sorvendo devagar a brisa que atravessou o batente, entrou por suas narinas, revigorando-lhe as forças e a convidando para sair. O domingo amanheceu radiante, iluminado pelos primeiros raios de sol, que se refletiam no frescor do orvalho da madrugada que se despedia mansamente.

Vacilando como se tivesse acabado de aprender a andar, pisou descalça no jardim sentindo a grama úmida refrescar-lhe os pés cansados e doloridos. Aspirou o perfume das flores que eram disputadas pelos pássaros em algazarra e provou dos frutos que as árvores deixavam cair generosamente ao sabor do vento que ia e vinha entre elas, como um fiel jardineiro a cuidar de seu pomar.

Atravessou o jardim até a rua vazia, onde a sombra das árvores tornava tranqüila a caminhada, que a levou a um parque imenso, adornado por um lago de águas cristalinas e muitos bancos espalhados em redor.

Fora atraída pelo suave murmúrio das pessoas que conversavam placidamente enquanto caminhavam por entre as alamedas, acompanhadas de perto por bandos de crianças que brincavam, riam e cantavam, numa folia sem fim.

Quis retornar, seu aspecto rude a inibia de mostrar-se para aquela gente. E, ao tentar fazê-lo, uma bela senhora de meigo sorriso, aproximou-se estendendo as mãos e convidando-a para um abraço, enquanto lhe falava docemente, numa voz que ela conhecia muito bem “Seja bem-vinda, filha, estávamos à sua espera!”.

O cão e a gata foram as únicas testemunhas de sua partida. Ficaram para trás, observando-a atravessar serenamente a fronteira de sua vida. Adormeceram em seguida, sonhando com seus afagos e esperando...


Flora, 17-03-2007

Copyright©2007 by Flora Regina. Todos os direitos reservados. Lei 9.610 de 19.02.1998. Direitos autorais registrados na Fundação Biblioteca Nacional. Reprodução permitida desde que citada a fonte. Contatos pelo e-mail: flora_reginas@yahoo.com.br

quinta-feira, 22 de março de 2007

Crônica escrita por Rubem Alves, sobre a afirmação do Papa Bento XVI: "O 2º casamento é uma praga"
A praga
(Rubem Alves)

É bom atentar para o que o papa diz. Porta-voz de Deus na Terra, ele só pensa pensamentos divinos. Nós, homens tolos, gastamos o tempo pensando sobre coisas sem importância tais como o efeito estufa e a possibilidade do fim do mundo. O papa vai direto ao que é essencial: "O segundo casamento é uma praga!"
Está certo. O casamento não pertence à ordem abençoada do paraíso. No paraíso não havia casamento. Na Bíblia não há indicação de que as relações amorosas entre Adão e Eva tenham sido precedidas pelo cerimonial a que hoje se dá o nome de casamento: o Criador, celebrante, Adão e Eva nus, de pé, diante de uma assembléia de animais, tudo terminando com as palavras sacramentais: "E eu, Jeová, vos declaro marido e mulher. Aquilo que eu ajuntei os homens não podem separar..."
Os casamentos, o primeiro, o segundo, o terceiro, pertencem à ordem maldita, caída, praguejada, pós-paraíso. Nessa ordem não se pode confiar no amor. Por isso se inventou o casamento, esse contrato de prestação de serviços entre marido e mulher, testemunhado por padrinhos, cuja função é, no caso de algum dos cônjuges não cumprir o contrato, obrigá-lo a cumpri-lo.
Foi um padre que me ensinou isso. Ele celebrava o casamento. E foi isso que ele disse aos noivos: "O que vos une não é o amor. O que vos une é o contrato". Aprendi então que o casamento não é uma celebração do amor. É o estabelecimento de direitos e deveres. Até as relações sexuais são obrigações a ser cumpridas.
Agora imaginem um homem e uma mulher que muito se amam: são ternos, amigos, fazem amor, geram filhos. Mas, segundo a igreja, estão em estado de pecado: falta ao relacionamento o selo eclesiástico legitimador. Ele, divorciado da antiga esposa, não pode se casar de novo porque a igreja proíbe a praga do segundo casamento. Aí os dois, já no fim da vida, são obrigados a se separar para participar da eucaristia: cada um para um lado, adeus aos gestos de ternura... Agora está tudo nos conformes. Porque Deus não enxerga o amor. Ele só vê o selo eclesial.
O papa está certo. O segundo casamento é uma praga. Eu, como já disse, acho que todos são uma praga, por não ser da ordem paradisíaca, mas da maldição. O símbolo dessa maldição está na palavra "conjugal": do latim, "com"= junto e "jugus"= canga. Canga, aquela peça pesada de madeira que une dois bois. Eles não querem estar juntos. Mas a canga os obriga, sob pena do ferrão...
Por que o segundo casamento é uma praga? Porque, para havê-lo, é preciso que o primeiro seja anulado pelo divórcio. Mas, se a igreja admitir a anulação do primeiro casamento, terá de admitir também que o sacramento que o realizou não é aquilo que ela afirma ser: um ato realizado pelo próprio Deus. Permitir o divórcio equivale a dizer: o sacramento é uma balela. Donde, a igreja é uma balela... Com o divórcio ela seria rebaixada do seu lugar infalível e passaria a ser apenas uma instituição falível entre outras. A igreja não admite o divórcio não é por amor à família. É para manter-se divina...
A igreja, sábia, tratou de livrar seus funcionários da maldição do amor. Proibiu-os de se casarem. Livres da maldição do casamento, os sacerdotes têm a suprema felicidade de noites de solidão, sem conversas, sem abraços e nem beijos. Estão livres da praga...
Folha de S.Paulo, 20 mar. 2007.

sábado, 17 de março de 2007

FAMÍLIA
(crônica escrita por Elano Ribeiro Baptista)

"...Grande ou pequena, barulhenta ou discreta, unida ou desunida. Seja como for, quase todo mundo tem uma família. Lendo o texto de Michaela, me dei conta de como a minha encolheu nas duas últimas décadas e, lembrei-me nostálgico dos meus tempos de garoto e de como eu esperava ansiosamente pela chegada de algumas ocasiões festivas: Natal, Ano Novo, Carnaval, Semana Santa, Dia das Mães, Dia dos Pais... Momentos em que a casa de minha avó ficava cheia de parentes, inclusive os que vinham de longe – esses ainda traziam vários amigos. Pais, avós, tios, primos, conhecidos, estranhos, todos juntos fazendo de cada hora do dia uma grande festa. Falatório geral na mesa pro almoço, gargalhadas, histórias..."

Acesse o site da revista eletrônica "Cronicas Cariocas" e leia na íntegra essa crônica
www.cronicascariocas.com.br

quarta-feira, 14 de março de 2007

conscientious stardust
(por luciano fortunato)


perguntar ao pó das lembranças do sempre
afetar a rosa silvestre
aquela que nasceu no ninho das cobras

desequilibrar o totem orgulhoso na colina
adormecer cada edredom frio
aquele não-algodão de fazenda de mississipi

sacudir o corpo de poeira cósmica aglomerada
espalhando estrelas pelo chão da casa
aquela com uma varandinha

amar nosso senhor que é a nossa consciência
nossa criação de desejos impossibilitados
aqueles que nos movem a vida.


Luciano Fortunato: poeta, escritor, músico, compositor, vocalista da banda Chave Inglesa e cronista musical da revista "Cronicas Cariocas".

Para conhecer o trabalho de Luciano Fortunato, acesse:




sexta-feira, 9 de março de 2007

Sobre Carinho e Afeto
(crônica escrita por Elano Ribeiro Baptista, publicada na revista eletrônica "Crônicas Cariocas")www.cronicascariocas.com.br




Trabalho há treze anos numa escola pública de horário integral e já há algum tempo venho observando a rotina dos pais de nossos alunos, que nos entregam seus filhos às oito da manhã e voltam para buscá-los às quatro da tarde, quando já estão ansiosos para retornar aos seus lares. Senhores e senhoras aflitos de saudades, correm de braços abertos na direção de seus filhos.

Deveria ser assim, mas não é, pelo menos pra maioria, que demonstra total indiferença no momento do reencontro diário com suas crianças. Nem um sorriso, nem um beijo. No lugar desses carinhos, rostos fechados, deixando transparecer claramente que se as aulas fossem até as dezessete, dezoito ou vinte horas, seria um tanto melhor. E, não raro, alguns “esquecem” de pegar seus filhos na hora correta. A distância parece cômoda. Já ouvi o seguinte comentário por parte de uma senhora, em relação à proximidade do fim do ano letivo:

- Vão começar as férias, esse é o pior período do ano pra mim. Criança em casa o dia todo é horrível.

Existem também aqueles pais que falam o que vem à cabeça sem se importar com o fato do filho estar ao lado, ouvindo tudo claramente. Certa vez solicitei que a mãe de um de nossos alunos me trouxesse os documentos pessoais dela e do pai da criança. Obtive a seguinte resposta, dita exatamente desta maneira:

- Ah, eu não sei nem por onde anda aquele infeliz. Ele só quis saber de fazer e caiu fora.

Fico me perguntando, o porquê dessas atitudes? Será que esses pais não tiveram nenhum tipo de carinho e amor quando crianças, e por isso não conseguem transmitir afetividade alguma? Conheço uma pessoa assim, um grande amigo, que cresceu sem saber o que era um abraço, um beijo, um momento destinado para as brincadeiras e para o diálogo, tanto por parte de sua mãe quanto de seu pai. Há seis anos a vida lhe presenteou com uma linda menina, porém, por mais que a ame, não consegue expressar esse sentimento para a filha, tanto em palavras quanto em gestos. Para ele, dizer eu te amo é algo extremamente complicado.

Há de se ressaltar que, quase a totalidade das famílias a que me refiro são muito carentes, enfrentam sérios problemas financeiros e sociais, porém, em minha opinião, nada disso justifica a falta de carinho e afeto, dois fatores fundamentais no desenvolvimento de uma criança, e que certamente, servirão como pilares na sua formação. Costumo dizer que, quase sempre, os filhos são reflexos de seus pais. Como irão crescer essas crianças, que hoje não têm a mínima atenção por parte de quem elas esperam o máximo?

No excelente livro Perdas & Ganhos, Lya Luft escreveu o seguinte: “Crianças, seja em que família for, serão seguramente – não principalmente – um problema e uma tarefa. Para que nos signifiquem alegria nós as teremos de querer e amar...”.

quarta-feira, 7 de março de 2007

08 de março - dia internacional da mulher



Mulher
(por Elano Ribeiro Baptista)

Criação máxima da natureza
De perfeitos traços e contornos
Não há nada mais doce que seu caminhar
Concreto sinônimo de beleza.

Como Fênix, renasce ainda mais bela
Das batalhas travadas na guerra diária
Pelo amor, pelos filhos, pela sobrevivência...
Mantendo no olhar um brilho colorido de aquarela.

Fonte de inspiração para nós, pobres homens mortais
És também, motivo para as nossas noites em claro
Quando longe estás, causando-nos insônias febris
Tirando-nos o sossego e a paz.

Mas acima de tudo, és tu mulher
O melhor de todos os nossos sonhos
A força incontestável disfarçada na ternura e na delicadeza
Por isso, independente da raça ou cor, tu és uma linda mulher!





domingo, 4 de março de 2007

BEIJOS


Beijos que não dei
Beijos que deveria ter dado
Beijos que sonhei
Beijos pra lá de molhados
Beijos que não soube roubar
Beijos que pedi
Beijos que nunca vi chegar
Beijos que eram pra ti
Beijos dados ao acaso
Beijos de canto de boca
Beijos em meio ao amasso
Beijos de paixão louca
Beijos sempre esperados
Beijos da mulher amada
Beijos às vezes inesperados
Beijos no calor da madrugada
Beijos embriagantes
Beijos dos foliões carnavalescos
Beijos sempre inconstantes
Beijos nos escuros becos
Beijos pudicamente proibidos
Beijos de um mesmo sexo
Beijos intensamente desinibidos
Beijos sem qualquer nexo
Beijos até virtuais
Beijos nunca antes imaginados
Beijos de nunca mais
Beijos de amores desenganados
Beijos dos adolescentes
Beijos cheios de tesão
Beijos dos amantes experientes
Beijos de saudade, ternura e emoção.
(Elano Ribeiro Baptista)

sexta-feira, 2 de março de 2007

DOIS NO CALÇADÃO
(conto escrito por Elano Ribeiro Baptista)

A matriz de Nossa Senhora de Copacabana está lotada de parentes e amigos de Flávio e Ana Rita. Ele, um jornalista em ascensão, editor de uma famosa revista semanal. Ela, uma escritora às vésperas de lançar seu segundo romance. Ambos são jovens, bonitos, filhos de classe média alta e com um futuro promissor. Flávio espera no altar. Como qualquer noivo está muito ansioso, anda de um lado para o outro e mantém a cabeça baixa o tempo todo, mesmo quando os diversos fotógrafos apelam por uma pose e por um sorriso. Ana Rita chega, todos os presentes olham em direção à porta, ela está mais linda do que nunca. Flávio finalmente tira os olhos do chão, mas seu olhar não está na bela moça vestida de branco e, sim, num rapaz também muito bonito que está parado de pé ao lado da porta. O belo rapaz se chama Hugo. Começa a marcha nupcial e Ana Rita adentra a igreja. Flávio se lembra que foi por causa de uma matéria que ele estava preparando para a revista, sobre os bares sofisticados da zona sul carioca, que acabou conhecendo Hugo, dono de um desses bares. A empatia entre os dois foi instantânea. O que era pra ser uma entrevista, acabou se transformando numa agradável conversa que se repetiria muitas vezes. O jornalista passou a ser freqüentador assíduo do bar de Hugo. Começaram a se encontrar também em outros lugares. Marcavam encontros na praia, caminhavam pelo calçadão, iam às livrarias e escolhiam juntos os livros que iriam ler. Um dia, numa conversa no apartamento do jornalista, Hugo revelou ser homossexual. Revelação que não causou espanto a Flávio, pois, esse, já havia percebido algo de “diferente” em Hugo. O que o deixou sem ação foi o fato de Hugo se declarar apaixonado por ele. Ana Rita já está na metade do caminho até o altar, o coração do jovem noivo está acelerado. Flávio resolveu se afastar de Hugo, porém, isso o deixou profundamente deprimido. Não entendia o porquê, mas sentia um desejo incontrolável de ir ao encontro de Hugo, tinha vergonha de admitir, mas no fundo, sabia que também estava apaixonado. Relutou muito, mas certo dia tomou a decisão de procurar seu amigo, lhe pediu desculpas pelo sumiço, disse que estava muito confuso. Explicou para Hugo que nunca havia sentido atração por nenhum homem antes. Os dois passaram a se encontrar ainda com mais freqüência, a ponto de Flávio sair de madrugada da casa de Ana Rita e ir direto para o bar do “amigo” e só sair de lá quando o sol já havia dado o ar da graça. Viviam um romance, estavam apaixonados, mas Flávio mantinha um sentimento de culpa, em parte por não compreender como pôde ter se apaixonado por um homem e continuar amando sua noiva e, principalmente, por não ter coragem de assumir esse relacionamento. Ana Rita chega ao altar. Flávio parece estar perdido em seus pensamentos, demora para esticar sua mão e receber a futura esposa. Ainda está se lembrando de tudo o que aconteceu, do dia em que chorando muito, explicou para Hugo que apesar de amá-lo, nunca poderia assumir esse relacionamento, faltava-lhe coragem para expor isso à sociedade e, particularmente, à sua noiva. Disse também que havia marcado a data do casamento e que por isso teriam que se afastar, dessa vez para sempre. O padre pergunta a Flávio se ele aceita Ana Rita como sua legítima esposa. Silêncio na igreja. Todos olham para o casal. O noivo vira-se para trás, olha para Hugo que continua de pé ao lado da porta. Hugo está chorando. Agora é a vez do olhar de Flávio se dirigir a Ana Rita e alguns segundos depois ao padre. O noivo finalmente responde. SIM. Hugo sai da igreja decidido a ir para casa, porém, resolve caminhar pelo calçadão, dessa vez sem a companhia de Flávio. Tira o paletó, afrouxa a gravata, respira fundo e caminha.

Elano Ribeiro Baptista





quinta-feira, 1 de março de 2007

Rio de Janeiro



442 anos
apesar de tudo, cidade maravilhosa
Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil
Cidade maravilhosa
Coração do meu Brasil
Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil
Cidade maravilhosa
Coração do meu Brasil

Berço do samba e das lindas canções
Que vivem n’alma da gente
És o altar dos nossos corações
Que cantam alegremente

Jardim florido de amor e saudade
Terra que a todos seduz
Que Deus te cubra de felicidade
Ninho de sonho e de luz
(André Filho)