terça-feira, 31 de julho de 2007

Treze anos
(Escrito para minha filha Bianca)

Trazia consigo bolas de gude
Dentro da mochila pendurada nas costas
Eras ainda uma menina frágil, inocente
Com rosto e cabelos angelicais
Convidava-me para jogar aquelas bolinhas
No terreno irregular da casa de sua avó.
Eu, claro, não desperdiçava a chance
De estar mais próximo de você
De me colocar à sua altura
De brincar nos seus sonhos de criança
De sorrir do seu sorriso adorável
De encher meu coração com toda a paz que você nos presenteava.
O tempo, essa cruel arma que está
Sempre apontada na direção de nossas cabeças
Fez de você uma moça ainda mais linda
E fez de mim um atento observador
De seus passos agora adolescentes
Em busca de caminhos que nortearão a sua vida.
Caminhos, Bianca, que nem sempre serão bonitos e retos
Mas, como todo pai (quanta alegria eu sinto por me chamares de pai)
Torço para que aqueles que escolher seguir
Sejam de paz, serenidade e AMOR (Amor, o maior de todos os Deuses)
E que tenha sempre a certeza de que você possui toda luz
Para iluminar seus caminhos, pois você é a própria luz.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Amor, nossa máquina do tempo
(crônica de Elano Ribeiro Baptista, publicada na revista "cronicas cariocas" - www.cronicascariocas.com.br)

A viagem no tempo deve ser mesmo o maior dos nossos sonhos, ela está presente na literatura, no cinema, na televisão. Talvez um sonho mais cobiçado do que qualquer conquista espacial, afinal, lá em cima, muito provavelmente, só encontraremos poeira e hipóteses. Muito provavelmente também nunca iremos criar aquela máquina dos filmes de ficção científica que, de uma hora pra outra, nos transporta através do tempo e do espaço. Mas, temos ao nosso alcance algo tão fantástico e menos utópico do que essas máquinas para nos levar nessa viagem. O AMOR. O mais nobre dos sentimentos propicia essa volta ao passado, para isso, basta ter amado algum dia e guardado dentro de si somente coisas boas de todos os amores vividos. Pra que guardar o que foi ruim?

Ela me contou que o seu celular tocou numa tarde dessas, num dia que tinha tudo pra ser igual aos outros. Trinnnnnn: “estarei no Rio de Janeiro amanhã, me encontre às 12 h, vou ficar esperando”. Se ela foi? É claro que foi. E sem que ela ainda soubesse estava acionando a sua maquina do tempo. Eles se reencontraram depois de vinte e cinco anos, tinham tido um namoro rápido no último período da faculdade. Mas quem foi que disse que o amor precisa de muito tempo pra ser vivido intensamente e deixar suas marcas? Ao final de seis meses de namoro eles se despediram e foram viver suas vidas bem distantes um do outro, sem trocar telefones e endereços, como o casal Jesse e Celine do filme “Antes do amanhecer” – olha eu falando outra vez desse filme – e construíram suas realidades atuais: trabalho, casamento, filhos.

O abraço apertado e demorado na porta do hotel onde ele estava hospedado foi o início do teletransporte para o passado. A viagem no tempo dos dois estava só começando. Caminharam de mãos dadas pelo calçadão, tomaram água de coco, deram risadas ao se lembrarem de histórias daquela época distante – distante só no tempo, pois na cabeça deles estava tudo mais atual do que nunca –, falaram sobre o rumo que a vida de cada um tomou... Talvez estivessem revivendo os sonhos e planos não realizados, mesmo sabendo que continuariam sem realizá-los, afinal, o portal de retorno ao presente não demoraria a se fechar, por isso, tudo precisava ser intenso: os sorrisos, os abraços, os beijos, os diálogos. Nenhum dos dois tinha a pretensão de mudar o passado, só queriam revivê-lo, e assim fizeram.

Os dias atuais dela, esses sim foram alterados, quem sabe até o futuro. Sua auto-estima, que andava meio por baixo, estava revitalizada, se percebeu ainda capaz de conquistar alguém, havia e há um novo brilho nos seus olhos. Mas, não pensem que a viagem de volta ao presente, é tão rápida quanto a de ida para o passado, isso porque, quando se retorna, trazemos aberto um baú – como ela mesmo disse. Baú que pode ser imaginário ou real. Nele existem fotos, cartas, recordações e questionamentos de todos os tipos. “Porque fizemos isso ao invés daquilo? Porque não foi tudo diferente? Porque não ficamos juntos?”. Leva certo tempo para aceitarmos o retorno à nossa vida de hoje, é como se acabássemos de acordar de um sonho bom, onde não cabiam tristezas e frustrações. Ela retomou aos poucos o seu cotidiano, esperando um novo telefonema, um trinnnnnn que possa novamente acionar a sua máquina do tempo.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Te escrever
(por Elano Ribeiro Baptista)

Quero te escrever
Mas não sei se devo
Nem sei se posso
Quero te sonhar
Mas tenho medo
E se o sonho acabar?
Quero te olhar
Como há muito não faço
Mas e se seus olhos brilharem?
Será um convite?
Ou um flash disparado por suas lembranças?

Quero te escrever
E vou te escrever
Tenho caneta, tenho papel
Tenho o amor
Tenho o toque de seu dedo no meu braço
Que não me pareceu por acaso.

Por isso vou escrever
Vou escrever você
Te escrever.

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Revista Língua Portuguesa
Entrevista com o escritor Ariano Suassuna


segunda-feira, 16 de julho de 2007

A magia dos sonhos
(conto infantil de Elano Ribeiro Baptista, publicado na revista 'cronicas cariocas" - www.cronicascariocas.com.br)

Um belo dia, João Pedro acordou assustado, olhou em volta e percebeu que tudo estava diferente. “Onde está o meu quarto, as paredes do meu quarto, meus carrinhos, meus gibis?” Perguntou o garoto, que só agora havia percebido que estava sentado dentro de um imenso pote, repleto de moedas de ouro. Logo se lembrou das histórias que seus pais lhe contavam sobre os tesouros escondidos no fim do arco-íris.

De repente, João Pedro sentiu alguma coisa lhe cutucando, como se fosse a ponta de uma vara. Olhou em volta, mas nada encontrou. Outro cutucão, agora acompanhado de uma pergunta. “Hei garoto, quem é você? O que você ta fazendo dentro do nosso pote?” O menino, olhando pra baixo, esfregou os olhos pra ter certeza de que não estava vendo coisas demais. Em torno do pote havia três duendes. Isso mesmo, duendes pequeninos e de orelhas pontudas. “Meu nome é João Pedro, só que eu não sei como eu vim parar aqui”. Os duendes logo disseram como. “Você veio escorregando pelo arco-íris e caiu aí dentro”. João Pedro disse àqueles pequenos homenzinhos verdes, que sempre pensou que essa história de pote de ouro no fim do arco-íris fosse invenção dos adultos, na escola a professora chamou isso de fábula ou conto de fadas.

Os duendes deram uma sonora gargalhada. “Nós estamos rindo porque os seres humanos acham que não existe nada além do que os olhos deles podem ver. Eles crescem e esquecem de viver seus sonhos e fantasias, preocupam-se somente com a realidade e, com isso, esquecem que um dia foram crianças e brincaram com a gente que vive nesse mundo, que todo adulto diz ser de faz-de-conta”. Ajudaram João Pedro a descer do pote e foram lhe mostrar como é encantador o mundo onde vivem. Um lugar de sonhos, colorido, cheio de vida, onde a natureza se mantém intacta. Contaram que no mundo deles não existe desmatamento, nem desrespeito a qualquer ser vivo, também não há animais em extinção, todos vivem em perfeita harmonia. Mas, o que mais encantou o pequeno garoto foi o gigantesco arco-íris que surgia não se sabe de onde, cheio de cores vibrantes. Mal pode acreditar quando encostou a ponta dos dedos naquelas enormes listras coloridas e sentiu que elas eram macias e felpudas, como se fosse um grande algodão doce, cada cor tinha um gosto e um cheiro diferente.

João Pedro estava adorando aquele lugar, já tinha conhecido outros duendes e começava a aprender novas brincadeiras, cada uma mais divertida que a outra. Ele também ensinou muitas coisas aos seus novos amigos e contou as histórias que lia em seus gibis. Já nem se lembrava mais de que aquele lugar não era sua casa, de que precisava descobrir como havia chegado até ali e como fazer para voltar. No meio de tanta diversão, um duende de longas barbas brancas, chamado mestre Diadorim, que os outros disseram ser um grande professor que vinha passando seus ensinamentos por várias gerações, disse ao menino João Pedro. “Nunca deixe de acreditar nos seus sonhos, mesmo quando você já estiver adulto e todos insistirem em dizer que não existem duendes, nem um pote de ouro no fim do arco-íris”. Depois disso o professor dos duendes entregou ao garoto uma singela flor e se despediu.

João Pedro já se preparava para voltar às brincadeiras quando escutou um barulho que lhe era muito familiar. “trinnnnnnnnnnnnnn”. Em seguida ouviu a voz do senhor Mário, inspetor da escola. “Vamos lá crianças, todos pra dentro da sala de aula. O que houve com você João Pedro que dormiu sentado aí nesse banco durante todo o intervalo?” O garoto ficou triste porque acabava de descobrir que tudo aquilo foi um sonho, que seus novos amigos duendes, o arco-íris de algodão doce, o pote de ouro – nada disso existia de verdade.

No caminho de volta da escola começou a observar como as árvores e os jardins estavam mal tratados, e o ar era carregado, de tanta poluição. Teve certeza de que os duendes saberiam cuidar melhor do nosso mundo do que nós mesmos. Respirou fundo. “Como pode tudo aquilo ter sido somente um sonho? Foi tão real.” Sentou-se na beirada do meio fio e resolveu chupar o último drops que tinha no bolso, pra sua surpresa, além da bala, havia algo a mais lá dentro. Os olhos do menino brilharam ao ver uma pequena flor de alecrim dourado, igualzinha a que o mestre Diadorim lhe presenteara. “Mas então não foi só um sonho.” Disse João Pedro, assustado e feliz, sem entender muito bem tudo o que estava acontecendo.

sábado, 14 de julho de 2007

Noturna
(por Magaly Grespan)


Devagar a tinta pinta a primeira letra

Devagar, antes que eu me esqueça

E de mendigo respingue em teu corpo

Antes que meu corpo, sonolento e tonto

Caia sobre a folha branca

Indizível olhar de piedade

A olhar-me na forma que desdita

Busco abrigo, um pensamento, um grito

Na tinta que hesita

Desejos e tremores de amores já sem vida

Eis a noite esposo que me fita

Imensa extensão, escrevo o meu eu

Antes que o tempo se transforme

E da noite a amanhecência o dia tome.



para conhecer outros textos da poetisa Magaly Grespan acesse o site da revista "cronicas cariocas" - www.cronicascariocas.com.br

terça-feira, 10 de julho de 2007

Mais cabeça e coração, menos quadril
(crônica de Elano Ribeiro Baptista, publicado na revista "cronicas cariocas" - www.cronicascariocas.com.br)

“O caminho para a transformação da educação no Brasil não passa por leis e sistemas; passa pela cabeça e pelo coração dos professores”. Essa frase afirmação é do Rubem Alves e faz parte de uma entrevista que ele deu pra Revista da Língua Portuguesa – excelente revista, quem ainda não conhece e possa se interessar pela publicação, aí vai o site: http://www.revistalingua.uol.com.br/ – na sua edição de nº 20. Concordo com Rubem Alves, de quem, aliás, gosto muito e tive a felicidade de poder assistir a algumas de suas palestras.

Trabalho numa escola pública e há muito que vivencio a necessidade dessa transformação no comportamento de alguns educadores. É claro que existem profissionais irrepreensíveis, que conseguem fazer com que uma turma de alunos cheios de limitações consiga evoluir de alguma forma. Há, ainda, aqueles professores que lecionam em instituições que não oferecem os mínimos recursos para a realização de um trabalho digno e, no entanto, superam as dificuldades com muita imaginação, talento e amor à profissão que escolheram, operando verdadeiros milagres em prol da educação de crianças extremamente carentes. Não, pensando melhor, não há milagre algum, eles simplesmente trabalham com a cabeça e, principalmente, com o coração. Mas, também existem os casos de professores desmotivados, que entram na sala de aula pensando apenas em “empurrar as horas”, sem se importar se seus alunos assimilaram nem que seja uma pequena parte do conteúdo aplicado, isso, quando algum conteúdo é aplicado.

São várias as justificativas para a falta de motivação, em minha opinião, nenhuma que justifique o desinteresse na realização de um trabalho satisfatório, principalmente porque, em alguns casos, trata-se de professores extremamente capazes e competentes, que estão deixando de transmitir aos seus alunos um vasto conhecimento adquirido ao longo de anos de regência e, com isso, acabam se auto-desvalorizando como profissionais. Não faz muito tempo, acompanhei os alunos da escola onde trabalho, juntamente com seus professores, a uma apresentação da cantora Bia Bedran. O espaço estava repleto de crianças de outras escolas, públicas e privadas. Me chamou muito a atenção o fato de alguns professores, em especial os das escolas particulares, estarem participando e também incentivando as crianças a participarem ativamente da apresentação, interagindo diretamente com a cantora. Outros, no entanto, simplesmente cruzaram os braços e ficaram lá, mais uma vez, “empurrando as horas” torcendo para que o evento acabasse o mais rápido possível, perdendo dessa forma, uma oportunidade rara de apresentar aos seus alunos, na maioria carentes e cheios de deficiências, entre elas as afetivas, uma música de qualidade, feita exclusivamente pra elas, crianças, além de serem essas mesmas músicas, um jogo lúdico, uma aula fora dos padrões habituais.


Esses professores, que se “neutralizaram” durante a apresentação da Bia Bedran, não agiram com a cabeça e coração, deixando de mostrar aos seus alunos que existem sons bem melhores do que os funks, cheios de letras maliciosas e de apologia às drogas, a prostituição, ao crime organizado, etc., que invadiram as escolas, não só as públicas, como as particulares também – já presenciei alunos da Classe de Alfabetização de uma escola particular tradicional, administrada por freiras, parodiando um funk, com direito a mãozinha no joelho, bem no dia da comemoração pelo final do ano letivo, tendo na platéia pais aparentemente orgulhosos por aquela exibição. Dia desses passei e parei em frente ao portão de uma pequena escola pública, no pátio havia uma turma se divertindo. Meia dúzia de gatos pingados jogava futebol, a grande maioria, porém, dançava animadamente ao som de uma música – música? – que diz: “hoje é festa lá no meu apê... vai rolar bunda lê lê / hoje é festa lá no meu apê, tem birita até o amanhecer”. Não me admirei ao ver que a regente daquela coreografia “nervosa”, cheia de rebolados e malícia, que as crianças, de no máximo sete anos faziam, era a própria professora, que remexia os quadris e aplaudia seus “pupilos” que, de forma mais ousada, requebravam até o chão, como se aqueles movimentos erotizados fossem o auge do aprendizado.

Não sou nenhum doutor em educação, o que escrevo aqui é baseado no meu dia-a-dia dentro de uma escola pública. E o que, constantemente eu observo, é que falta mesmo uma transformação na cabeça e no coração de alguns educadores (não só professores, mas todo aquele que exerce alguma atividade dentro de uma instituição de ensino), quantas vezes nos omitimos e deixamos de ensinar ao aluno o que é respeito, educação, higiene... Quantas vezes deixamos de ensinar o que é “ouvir”, porque sempre achamos que eles nunca têm nada de importante para nos dizer e, com isso, nunca os escutamos. Quantas vezes deixamos de demonstrar, na prática, algum gesto de afeto, carinho, amor..., não só pelo aluno, mas também pelo nosso colega de trabalho. Enquanto não acontecer essa mudança, de nada adiantarão reuniões pedagógicas – cheias de teoria onde tudo parece belo – e os maçantes conselhos de classe – que só servem para rotular o aluno de “bom” ou “ruim”.

Uma professora amiga minha disse o seguinte: “Saúde e educação são profissões de extrema responsabilidade, um médico quando erra prejudica uma pessoa, um professor quando erra prejudica dezenas de pessoas de uma só vez”.

quarta-feira, 4 de julho de 2007


FESTA LITERÁRIA INTERNACIONAL DE PARATI

de 04 a 08 de julho

acompanhe a 5ª edição da festa pelo site:

www.flip.org.br