segunda-feira, 16 de julho de 2007

A magia dos sonhos
(conto infantil de Elano Ribeiro Baptista, publicado na revista 'cronicas cariocas" - www.cronicascariocas.com.br)

Um belo dia, João Pedro acordou assustado, olhou em volta e percebeu que tudo estava diferente. “Onde está o meu quarto, as paredes do meu quarto, meus carrinhos, meus gibis?” Perguntou o garoto, que só agora havia percebido que estava sentado dentro de um imenso pote, repleto de moedas de ouro. Logo se lembrou das histórias que seus pais lhe contavam sobre os tesouros escondidos no fim do arco-íris.

De repente, João Pedro sentiu alguma coisa lhe cutucando, como se fosse a ponta de uma vara. Olhou em volta, mas nada encontrou. Outro cutucão, agora acompanhado de uma pergunta. “Hei garoto, quem é você? O que você ta fazendo dentro do nosso pote?” O menino, olhando pra baixo, esfregou os olhos pra ter certeza de que não estava vendo coisas demais. Em torno do pote havia três duendes. Isso mesmo, duendes pequeninos e de orelhas pontudas. “Meu nome é João Pedro, só que eu não sei como eu vim parar aqui”. Os duendes logo disseram como. “Você veio escorregando pelo arco-íris e caiu aí dentro”. João Pedro disse àqueles pequenos homenzinhos verdes, que sempre pensou que essa história de pote de ouro no fim do arco-íris fosse invenção dos adultos, na escola a professora chamou isso de fábula ou conto de fadas.

Os duendes deram uma sonora gargalhada. “Nós estamos rindo porque os seres humanos acham que não existe nada além do que os olhos deles podem ver. Eles crescem e esquecem de viver seus sonhos e fantasias, preocupam-se somente com a realidade e, com isso, esquecem que um dia foram crianças e brincaram com a gente que vive nesse mundo, que todo adulto diz ser de faz-de-conta”. Ajudaram João Pedro a descer do pote e foram lhe mostrar como é encantador o mundo onde vivem. Um lugar de sonhos, colorido, cheio de vida, onde a natureza se mantém intacta. Contaram que no mundo deles não existe desmatamento, nem desrespeito a qualquer ser vivo, também não há animais em extinção, todos vivem em perfeita harmonia. Mas, o que mais encantou o pequeno garoto foi o gigantesco arco-íris que surgia não se sabe de onde, cheio de cores vibrantes. Mal pode acreditar quando encostou a ponta dos dedos naquelas enormes listras coloridas e sentiu que elas eram macias e felpudas, como se fosse um grande algodão doce, cada cor tinha um gosto e um cheiro diferente.

João Pedro estava adorando aquele lugar, já tinha conhecido outros duendes e começava a aprender novas brincadeiras, cada uma mais divertida que a outra. Ele também ensinou muitas coisas aos seus novos amigos e contou as histórias que lia em seus gibis. Já nem se lembrava mais de que aquele lugar não era sua casa, de que precisava descobrir como havia chegado até ali e como fazer para voltar. No meio de tanta diversão, um duende de longas barbas brancas, chamado mestre Diadorim, que os outros disseram ser um grande professor que vinha passando seus ensinamentos por várias gerações, disse ao menino João Pedro. “Nunca deixe de acreditar nos seus sonhos, mesmo quando você já estiver adulto e todos insistirem em dizer que não existem duendes, nem um pote de ouro no fim do arco-íris”. Depois disso o professor dos duendes entregou ao garoto uma singela flor e se despediu.

João Pedro já se preparava para voltar às brincadeiras quando escutou um barulho que lhe era muito familiar. “trinnnnnnnnnnnnnn”. Em seguida ouviu a voz do senhor Mário, inspetor da escola. “Vamos lá crianças, todos pra dentro da sala de aula. O que houve com você João Pedro que dormiu sentado aí nesse banco durante todo o intervalo?” O garoto ficou triste porque acabava de descobrir que tudo aquilo foi um sonho, que seus novos amigos duendes, o arco-íris de algodão doce, o pote de ouro – nada disso existia de verdade.

No caminho de volta da escola começou a observar como as árvores e os jardins estavam mal tratados, e o ar era carregado, de tanta poluição. Teve certeza de que os duendes saberiam cuidar melhor do nosso mundo do que nós mesmos. Respirou fundo. “Como pode tudo aquilo ter sido somente um sonho? Foi tão real.” Sentou-se na beirada do meio fio e resolveu chupar o último drops que tinha no bolso, pra sua surpresa, além da bala, havia algo a mais lá dentro. Os olhos do menino brilharam ao ver uma pequena flor de alecrim dourado, igualzinha a que o mestre Diadorim lhe presenteara. “Mas então não foi só um sonho.” Disse João Pedro, assustado e feliz, sem entender muito bem tudo o que estava acontecendo.

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