quinta-feira, 19 de abril de 2007

O Milagre da Vida
(crônica escrita por Elano Ribeiro Baptista, publicada na revista "Cronicas Cariocas" em 11/04/2007)
Semana passada, recebi um e-mail de uma amiga, com o título O Milagre da Vida. Eram imagens feitas de dentro do útero materno, mostrando toda a gestação, passo a passo, desde o embrião com poucas semanas, até o nono mês de gravidez, quando já está prestes a nascer. Graças a um exame chamado ecografia 4D, é possível ver nitidamente as feições do bebê, podendo-se facilmente afirmar se ele é parecido com o pai ou com a mãe – será um pouco de exagero meu? Enfim, fiquei maravilhado com o que vi.

Meu lado racional me diz todos os dias que milagres não existem, mas se ele estiver enganado – e às vezes eu torço muito pra que esteja –, o maior, mais belo e concreto deles, é o Milagre da Vida. Ainda mais nos dias de hoje, tempos de extrema violência, onde boa parte das matérias publicadas nos jornais e revistas, ou apresentadas nos noticiários da TV, é sobre assuntos que chegam a “embrulhar” nossos estômagos, o nascimento de uma criança é, com toda certeza, a vitória da vida sobre a morte. Nunca é demais lembrar, casos como a da pequena Amillia Taylor, que nasceu em outubro do ano passado – quando sua mãe estava na 22ª semana de gestação – num hospital de Miami, nos Estados Unidos, pesando cerca de 280 gramas e tinha o tamanho de uma caneta. Mesmo com todos os avanços tecnológicos, os médicos consideram um milagre a menina ter sobrevivido. Acho que talvez, não tenha sido só um milagre, mas também o desejo de viver que todos nós temos, mesmo que inconscientemente. Amillia lutou e venceu.

E olha que existem crianças que já nascem lutando, literalmente, contra a morte. São “esquecidas” à própria sorte, dentro de lixeiras, em sacos plásticos, jogadas em rios, ou na melhor das hipóteses, abandonadas na porta de alguma casa, hospital ou igreja. Muitos de nós já ouvimos falar da Roda dos Enjeitados ou Roda dos Expostos, como era mais conhecida aqui no Brasil. Cilindros giratórios de madeira criados em 1188, em Marselha, na França, que serviam para que as mães deixassem seus filhos indesejados. No nosso país essa prática funcionou até meados do século XX. Pois bem, em alguns países da Europa, as “Rodas” voltaram a existir devido ao aumento do número de recém-nascidos abandonados, principalmente por imigrantes ilegais. O cilindro de madeira foi substituído por um berço aquecido com sensores que informam quando alguma criança é colocada ali, mas a finalidade continua a mesma, amparar seres inocentes vítimas de pais ou atitudes inconseqüentes.

Muito em breve o povo católico brasileiro poderá, enfim, orgulha-se de ter um santo 100% nacional, nascido e criado em terras de Pau-Brasil. O segundo milagre comprovado de Frei Galvão, foi exatamente o Milagre da Vida. Conta-se que depois de ingerir as famosas pílulas de papel do Frei, uma mulher com um sério problema de má formação no útero, que a impossibilitava de gerar uma criança, conseguiu levar a gravidez até o final e deu à luz um garoto que hoje está com sete anos de idade.

Muitos outros Milagres da Vida poderiam ocorrer, independente das graças concedidas por Frei Galvão ou qualquer outro santo, mas isso requer boa vontade e honestidade política. Quantos milhares de reais, que deveriam ser empregados na melhoria e na construção de hospitais, maternidades ou destinados a campanhas que poderiam diminuir em muito a mortalidade infantil nos lugares de extrema pobreza desse nosso país, não são desviados todos os anos para as polpudas contas de seres humanos inescrupulosos? Não raramente tomamos conhecimentos de casos em que alguma mulher prestes a dar à luz, tem atendimento negado em vários hospitais, com a alegação de que não há vagas, e essas pobres mães acabam perdendo seus filhos. Isso quando não perdem suas próprias vidas também.

Em setembro do ano passado, minha esposa Laura me contou que estava grávida. De lá pra cá, todos os dias de nossas vidas tem sido de intensas descobertas e realizações. Que coisa mais espetacular é ver uma barriga crescendo, sentir o bebê se mexendo, saber que ali dentro há uma vida que herdará diversos traços seus, te alegrará nos momentos de maior tristeza e fará você chorar de emoção quando der o primeiro sorriso. É, acho que vou deixar meu lado racional de “castigo” por uns tempos e passarei a dar mais crédito ao meu lado emocional, pois esse acredita em milagres, principalmente, no Milagre da Vida.

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