sexta-feira, 4 de maio de 2007

O desejo de ser um outro alguém
(crônica de Elano Ribeiro Baptista, publicada na revista eletrônica "Cronicas Cariocas" - www.cronicascariocas.com.br)


Creio que eu não seja o único a ter esse desejo. Quem não teve ou tem de vez em quando, a vontade de ser um outro alguém. Principalmente, se esse outro alguém for uma pessoa conceituada e respeitada, inclusive por fazer muito bem aquilo que se propõe a fazer. Em se tratando de celebridades, eu tenho a minha lista – nada modesta – de “quem eu gostaria de ser”: Jô Soares, Lázaro Ramos, Martha Medeiros, Selton Mello, Vitor Paiva, Rubem Alves, Michel Melamed, Marisa Monte. Isso entre os vivos, pois se eu for colocar aqueles que já partiram dessa pra uma melhor, essa relação vai aumentar consideravelmente.

Quantos executivos carrancudos que fazem linha dura na frente de seus subordinados, não morrem de vontade de jogar tudo pro alto, afrouxar a gravata e ser um Keith Richards, tocando sua guitarra pra milhares de fãs e sair por aí fazendo o que vier à cabeça. Quantas recatadas donas de casa não ousariam, nem que por um minuto, se transformar na Sharon Stone e enlouquecer os colegas de trabalho com uma instigante cruzada de pernas.

Mas, se nesse exato momento eu encontrasse uma lâmpada mágica e dela saísse um gênio, dizendo que eu poderia escolher ser uma outra pessoa qualquer, eu não teria dúvida. Só que não seria um ser físico, real. Gostaria de ser Jesse, personagem do ator Ethan Hawk, protagonista – ao lado da linda atriz Julie Delpy, que interpreta a doce e apaixonante Celine – de “Antes do amanhecer” e “Antes do pôr-do-sol”. Apesar de o primeiro filme ser de 1995 e o segundo de 2004, só agora é que eu assisti a essas duas maravilhas do cinema americano. A história de amor entre Jesse e Celine é encantadora. Algo que vai muito além dos romances reais e tradicionais, que já começam com regras e cheios de cuidados com o que pode ou não ser dito. Quem já viu pelo menos um dos filmes, sabe o que quero dizer e poderá facilmente entender o meu desejo de ser Jesse. Quem ainda não viu, deve correr à locadora e se colocar na pele deste lindo e fascinante casal.

Mesmo os famosos, que já são cultuados, paparicados, idolatrados, copiados..., devem ter vontade de ser um outro alguém, de vez em quando. Não é raro assistirmos a entrevistas de algumas dessas pessoas e ouvir delas que às vezes gostariam de ser cidadãos “comuns” para saírem às ruas e não serem “perseguidos” por fãs, jornalistas ou paparazos. Se bem que algumas dessas declarações têm um certo tom de hipocrisia. Afinal, ser querido e admirado por milhares de pessoas deve ser muito bom. Mesmo que por diversas vezes apareça algum chato pra lá de mal educado que faz questão de não entender que até as celebridades precisam de um tempo só deles.

Posso dizer ainda, que mesmo entre nós – seres mortais e anônimos – o nosso desejo de ser um outro alguém, vai além das personalidades famosas. Quantas vezes não queremos ser iguais ao colega do trabalho, ao vizinho, ao professor. Não se trata de inveja. Ou, se for, é uma inveja positiva, sinal de admiração e respeito por determinada pessoa.

Bom, como ainda não inventaram uma máquina que nos transforme em outras pessoas, resta-me os sonhos. Quem sabe neles eu não me veja na pele de um baiano negro extremamente talentoso, ou então na de um gordinho charmoso, divertido e inteligente pra caramba. Beijos do gordo! Quer dizer, do Elano.

Um comentário:

Clara disse...

Hahahahahaha! Você além de um grande escritor é também uma grande comédia. Adorei:" - Beijo do gordo! Quer dizer do Elano!" Será que eles são tão bons feito essas palavras que te vestem com uma inspiração tão encantadora? Abração pra você, querido!
Naza