sexta-feira, 14 de dezembro de 2007


Um conto de Natal

(por Elano Ribeiro)

Não podia ser verdade. Justamente no Natal em que João Pedro mais precisaria da ajuda de Papai Noel, vinham seus colegas da escola com essa história de que o bom velhinho não passa de uma invenção dos adultos. O pobre menino, que já contava com a ajuda de Papai Noel para ganhar seu mais valioso presente – algo que, até então, nunca havia pedido –, chegou em casa aos prantos:

- Mãe, é verdade que Papai Noel não existe?
- Quem foi que te disse isso meu filho? – Perguntou a mãe, já abraçada ao menino.
- Foram alguns colegas meus lá da escola mãe. Eles começaram a rir de mim quando descobriram, dentro da minha mochila, uma carta endereçada ao pólo norte.
- E o que estava escrito nessa carta, João Pedro?
- Ora, mamãe, o que mais podia ser? Meu pedido de presente ao Papai Noel.

A mãe da jovem e inocente criança pensou por um tempo, antes de responder a pergunta do filho, sobre a existência ou não de Papai Noel. Até que, supôs, corretamente, ter achado a resposta certa.

- João Pedro, meu filho! Preste bem a atenção no que vou lhe dizer: Papai Noel existe para quem acredita nele. Ele está dentro de nossos corações.

O menino se sentiu mais aliviado com as palavras de sua mãe, pessoa em que ele confiava plenamente.

- E eu posso saber qual foi o presente que você pediu esse ano?
- Pode, sim. Eu pedi que Papai Noel tenha uma conversa com o papai e peça para ele parar de beber. Assim, todos nós ficaríamos felizes e poderíamos viver novamente em paz.

A mãe de João Pedro, com os olhos cheios d’água disse ao menino:

- Meu filho, peça seu presente com muita fé. Eu tenho certeza que Papai Noel fará o possível e o impossível para lhe atender.

Há mais ou menos três anos a família vinha sofrendo com o alcoolismo do pai de João Pedro. Ele começou a beber todos os dias. Aparentemente, sem nenhum motivo. Diariamente o menino assistia as brigas entre seus pais. Todas elas provocadas pelo terrível e destruidor vício a que seu pai havia se entregado.

Apesar de muito jovem, João Pedro sabia que se seu pai continuasse a beber, em pouco tempo o casamento de seus pais iria acabar. O pobre menino se desesperava cada vez que imaginava essa possibilidade, além de sofrer muito, por ver sua mãe angustiada, sempre que seu pai demorava um pouco mais para chegar em casa. Mãe e filho sabiam, perfeitamente, que a demora do pai em voltar para o lar significava que ele estava em algum bar se embriagando.
No último dia de aula, ao sair da escola, João Pedro foi direto para a agência dos correios. Resolveu seguir o conselho de sua mãe e enviou a carta para Papai Noel, confiante de que o bom velhinho iria atender ao seu pedido.

Na noite de natal, João Pedro e seus pais sentaram-se à mesa. Por causa do problema de seu pai com a bebida, há muito os familiares haviam se afastado. E, em conseqüência disto, as noites de natal que até então eram sempre de muita festa, com toda a família reunida, passaram a ser apenas um jantar para pai, mãe e filho.

João Pedro percebeu algo de diferente na mesa. Para a sua surpresa e de sua mãe, não havia nenhuma garrafa de vinho ou qualquer outra bebida alcoólica. Pensou em fazer um comentário a respeito, mas resolveu ficar em silêncio. Afinal, seu pai podia ter esquecido de colocar as bebidas sobre a mesa, e não seria ele quem iria lembrá-lo.

Para uma surpresa ainda maior, o pai sugeriu que antes de iniciar a ceia, fosse feita uma oração. Logo após ele se pôs a falar:

- Meu filho e minha esposa. Eu gostaria de dizer a vocês que, a partir de hoje, eu vou fazer de tudo, vou usar de todas as minhas forças para nunca mais colocar uma dose de álcool na boca. Também gostaria de pedir perdão a vocês, em especial a você, minha adorável esposa, que tem suportado todos os problemas causados por mim e por esse vício maldito.

Nesse momento, mãe e filho levantaram da mesa e se juntaram ao pai, num abraço longo e emocionado.

Quando João Pedro foi dormir, lembrou de agradecer ao Papai Noel:

- Papai Noel, eu sei que o senhor só costuma entrar nas casas das pessoas para deixar os presentes, quando já é bem de madrugada. Mas, por algum motivo, você esteve aqui na minha casa um pouco mais cedo. Apesar de não ter lhe visto, agora, mais do que nunca, tenho a certeza da sua existência.

E, continuou...

- Mamãe estava certa quando me disse que o Papai Noel existe para quem acredita. Ele está em nossos corações. Eu acreditei. E Papai Noel me trouxe o melhor presente da minha vida: ele reconstruiu minha família.