quinta-feira, 17 de julho de 2008

Pode crê
(por Elano Ribeiro. Crônica publicada na revista eletrônica Crônicas Cariocas)


Texto dedicado aos amigos do projeto Revelando os Brasis

“Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante, de uma estrela que virá numa velocidade estonteante, e pousará no...”. E pousou, em Copacabana, mas precisamente na Avenida Atlântica, quase na esquina com a Santa Clara, exatamente ali, naquele bairro que é, para mim, a maior torre de Babel a céu aberto do Brasil. Democracia de línguas, diversidade de culturas, marginalidade aflorada. Cartão postal da beleza carioca, retratada nas ondas de pedra do seu calçadão. Cartão postal das mazelas cariocas, escondidas atrás dos prédios à beira mar. Enfim, Copacabana continua linda.


E foi nesse universo quase ficcional, como se Copacabana tivesse saído das páginas de Nelson Rodrigues, que um índio e mais trinta e nove indivíduos, entre eles eu, das mais diversas “tribos”, desembarcaram para viverem juntos, praticamente vinte e quatro horas por dia, durante duas semanas, uma espécie de conto-de-fadas-dos-tempos-modernos ou um reality show sem câmeras escondidas. Quarenta pretensos cineastas, ou, simplesmente, amantes das artes, não necessariamente da sétima, deixando se levar pelo vai-e-vem das ondas do mar, e também das ondas cerebrais, ativando os impulsos da imaginação e da criatividade.


Gaúchos, paranaenses, baianos, cearenses, acreanos, mineiros, pernambucanos, quase cariocas..., todos trazendo nas malas um texto de sonhos e perspectivas, e muitas expectativas com relação à volta para casa, já acompanhados de uma câmera na mão e mil idéias incompletas na cabeça. Arrisco-me a dizer, que éramos, e ainda somos, e talvez sejamos por todo o resto de nossas vidas, quarenta aspirantes a Glauber Rocha do século XXI.


No meio dessa tribo de pretensos cineastas brasileiros, havia um jogo de palavras e sotaques de deixar qualquer aficionado pela língua brasileira num verdadeiro êxtase. Até as gírias – confesso que elas nunca me soaram muito bem – pareciam-me envolventes e apaixonantes. Mas entre “bá”, “tri legal”, “daí”, “arretado”, ‘trem bão”, “aí”, “massa”, “só” “meu”... destacava-se a completa amplitude de sentidos do “pode crê”, entoado como uma oração, divulgada, estimulada e “ensinada” por um mineiro “papo-cabeça-raul-seixista” e por um paranaense entendido das idéias socráticas e platônicas.


Muito em breve, toda essa diversidade cultural estará novamente reunida, numa comunhão de gestos, histórias, causos, sabores (salve o mel de Cambará do Sul e o pão de mel de Santa Maria Madalena), palavras, risos, lembranças, certezas, incertezas, companheirismo e filmes. Todos com seus vídeos prontos, filmados em lugares completamente distintos e geograficamente distantes, mas focados num mesmo espírito desbravador.


Caros amigos: em outubro vamos mais uma vez nos encontrar, e decupar um pouco mais os roteiros de nossas próprias vidas. Pode crê!

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