quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Papai Noel existe
(por Elano Ribeiro)
“Nossa, como o tempo passou depressa.” Fiz essa afirmação ontem, ao folhear uma revista, e nela encontrar uma propaganda de um shopping anunciando a abertura oficial do Natal, com seu símbolo-mor: Papai Noel. Nada de Jesus Cristo, mensagens de paz e amor, esperança... O que vale para o comércio é o saco cheio de presentes do bom velhinho.
Sempre gostei das festas de fim de ano. Descobri aos doze (“tardiamente”, dirão os “adultos” precoces de hoje) que Papai Noel era mamãe e papai. Ambos de carne e osso. Mas foi uma descoberta sem traumas, muito tranqüila. Tive a felicidade de sempre ganhar bons presentes, mesmo quando não era exatamente aqueles que eu havia pedido. Meus pais me davam alguma explicação – que eu não me lembro qual era – pela substituição dos presentes que eu havia pedido, e ficava tudo certo.
Porém, durante um bom período da minha vida, eu vivia dizendo que quando tivesse um filho, não deixaria que ele acreditasse na existência daquele bom velhinho que não se esquece de ninguém. Seja rico ou seja pobre, o velhinho sempre vem? Não, pros pobres ele nem sempre aparece. Ele pode surgir com uma bola de plástico, com uma imitação distante da Barbie ou com aqueles joguinhos eletrônicos, tamanho miniatura, que a criança enjoa em dois tempos. Mas, Playstation, bicicleta de 21 marchas com aro de alumínio ou as Barbies de verdade, esses, são presentes pra poucos.
Essa ilusão, de que o Papai Noel trará aquele tão sonhado presente, é que sempre me pareceu injusta. Não acho que um vídeo game de última geração possa fazer uma criança mais feliz do que um pião de madeira. Mas, com certeza, pra qualquer criança, o sonho do presente perfeito não está no pião. “Porque Papai Noel lembrou do meu amigo e esqueceu de mim?”. Essa é a pergunta que muitas crianças fazem no dia de Natal.
Mas, como as nossas idéias mudam quando nos tornamos pais... Sempre me disseram isso, e é a mais pura verdade. Depois de muito pensar a respeito, vou deixar, sim, que meu filho acredite na doce ilusão do Papai Noel. A criança precisa conhecer a sua realidade, mas também precisa dos sonhos – mesmo que às vezes eles sejam impossíveis de serem realizados – e da magia. Não acho que eu tenha o direito de tirar de João Pedro a maravilhosa ilusão da chegada do bom velhinho. A carta com os pedidos, o sapatinho posto na janela, a expectativa pela hora de abrir os presentes, o sorriso sincero estampado no rosto.
Ele, João Pedro, que decida quando tiver os seus filhos, o que fazer com a figura do Papai Noel. Eu já me decidi: ele existe. E, chega pilotando seu trenó puxado por um monte de renas aladas. Ah, e quando possível, entra pela chaminé.

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