quarta-feira, 7 de novembro de 2007


Gente com medo de gente
(por Elano Ribeiro)

Aqueles que me dão o prazer de suas leituras a cada quinze dias, aqui no Crônicas Cariocas, já sabem que eu moro numa pequena cidade do interior do Rio de Janeiro, pois já revelei isso nesse democrático espaço, pelo menos umas duas vezes. Pequena mesmo. Talvez, todos os bairros do município do Rio de Janeiro tenham mais moradores que em Mendes, meu “esconderijo” desde sempre.

Mas, dias atrás, devido a um desagradável compromisso de trabalho, tive que ir à capital da cidade maravilhosa, que continua e sempre será linda. Andando lá pelas bandas do Centro, próximo à Candelária, senti que precisava de uma informação para conseguir chegar ao local onde eu tinha hora marcada. A quem perguntar? Ao jovem que vinha de encontro a mim, é lógico. Sujeito boa pinta, terno e gravata, passos firmes e olhar sempre adiante. Tive a certeza: “esse é o cara que vai me ajudar”. Estiquei a mão em sua direção, como querendo dizer: “hei, você pode me dar um minuto de sua atenção, é que preciso de uma informação...” Mas, apenas tive tempo de dizer: “por favor, você....” O jovem rapaz nem nos meus olhos olhou. Ele simplesmente me ignorou. Era como se eu não existisse. E, lá se foi ele com seus passos certeiros. Provavelmente, ele pensou: “o que esse cara de camisa de malha, calça jeans e tênis All Star pode estar querendo falar comigo? Só pode ser merda. Ele vai me assaltar ou pedir dinheiro”.

Eu fiquei parado, com “cara de tacho”, meio que sem saber o que fazer com tal reação. Sinceramente, não esperava uma atitude daquelas. Será que isso é comum nas grandes cidades? Não. Não a nada de comum. O que existe hoje em dia é o medo. Gente com medo de gente. E, posso apostar que isso não é “privilégio” dos moradores das metrópoles urbanas. Até mesmo no interior, as pessoas andam amedrontadas. E o que causa mais medo nas pessoas, são as outras pessoas.

Já vai longe o tempo em que, aqui mesmo na minha pequena cidade, atendíamos com paciência e atenção a todos que batiam em nossa porta, solicitando qualquer tipo de ajuda. Hoje olhamos, primeiramente, com muito cuidado através da porta entreaberta. Analisamos a pessoa que está lá fora, para só então decidirmos se vamos atendê-la ou não.

Sinal dos tempos modernos. Não confiamos (ou não podemos confiar) em mais ninguém. Temos medo de quase tudo que se move a nossa volta. Vivemos em total estado de alerta, esperando sempre pelo pior. Quase nunca passa pelas nossas cabeças que uma pessoa que lhe estende a mão pode estar mesmo precisando de ajuda. Como eu, naquele dia lá no Centro do Rio. Mão estendida ao vento, e a triste constatação de que a maioria das pessoas só se sente segura dentro de seu próprio mundo (apartamentos, casas, grupo de amigos...). Fora deles todos são suspeitos, até que se prove o contrário.

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